O lado trash da guerra
por Barbara DemerovA madrugada que antecedeu o Dia D, na Normandia, compõe o cenário de Operação Overlord, terror de guerra que destaca em seu título o plano de invasão executado em 1944. Toda a base do filme se encontra na Segunda Guerra Mundial, mas a graça se encontra justamente na maneira diferenciada como a história é conduzida (especialmente por tratar de um tema já muito abordado no cinema). Aqui, o horror da realidade se mistura com um estilo mais sofisticado de filme B; e a resolução não poderia ser mais divertida.
O senso de urgência que a guerra traz é introduzido logo na sequência inicial, definindo a mensagem que o filme quer transmitir: o que importa é o que está acontecendo agora. Ao acompanharmos uma equipe de soldados americanos prestes a serem jogados (literalmente) para além das linhas inimigas, já é possível saber o que nos aguarda nos próximos minutos: ação, morte, sangue... e mais ação. Mas o que há além disso? O que torna Operação Overlord diferente de outros tantos filmes de guerra? A resposta: o nome J. J. Abrams, cujo estilo e ideias inesperadas mostram-se tão fortes aqui quanto na franquia Cloverfield.
Além da evidenciação do clima de sofrimento, pobreza e apreensão, a sensação do terror da guerra com o terror do desconhecido se unem e elevam a intensidade da história. Sabemos que há mais do que nazistas no pequeno vilarejo francês, mas o que está acontecendo exatamente? O suspense é muito bem elaborado e trabalha o horror da batalha de maneira crível; mas o espaço também é o do gore, puro e simples, que toma as rédeas sem medo de impactar. A transição é fluida e ao mesmo tempo carregada, mas nunca perde seu ritmo.
A "rotina" da Segunda Guerra Mundial (incluindo bombas plantadas em terrenos vazios e o terror que soldados nazistas instauram nos civis) logo se opõe à missão que foi incumbida aos soldados que sobreviveram. O filme aproveita mais um pedaço da realidade e transforma os estudos científicos dos nazistas em inocentes na chance de introduzir o sobrenatural e, principalmente, a carnificina. A missão de destruir uma torre nazista não é mais tão simples como parece, pois há muito mais em jogo.
Assim como em relação aos efeitos práticos e especiais, a ambientação de Operação Overlord é, sem dúvidas, um dos pontos mais altos da produção. Mesmo intercalando o lado histórico com o lado irreal, é possível ver que sua identidade ainda se mantém intacta, o que não é pouca coisa. O elenco também se destaca e não só está sintonizado como também ajuda a manter um ritmo dinâmico entre os planos secretos e as execuções dos mesmos. A aliança formada pela francesa Chloe (Mattilde Ollivier) com os soldados, incluindo Boyce (Jovan Adepo) e Ford (Wyatt Russell), entrega aquela parcela de humanização à história e se alterna com a violência, enquanto o vilão interpretado por Pilou Asbæk balanceia os dois lados da narrativa.
Operação Overlord sabe exatamente a que veio. É um prato cheio para o cinema de horror e não oscila ao reunir componentes humanos e sobrehumanos na mesma narrativa, que por sua vez é enérgica e rende momentos de ação grandiosos. Poderia ter dado muito errado, mas a presença do gore venceu a batalha de entreter em pleno Terceiro Reich.