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    Justiça Brutal
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Justiça Brutal

    Perseguição policial à moda antiga

    por Barbara Demerov

    Logo nos primeiros minutos de Justiça Brutal fica claro que os detetives policiais Brett Ridgeman (Mel Gibson) e Anthony Lurasetti (Vince Vaughn) têm dificuldade para se encaixar no mundo daquilo que se convencionou chamar de “politicamente correto”. Numa cena aparentemente banal, reclamam de não conseguir distinguir se tal artista cantando uma música na rádio é menino ou menina. “Não que isso faça muita diferença nos dias de hoje”, diz um deles.

    Logo na sequência, a dupla é suspensa das atividades profissionais por conta de um vídeo que a mostra empregando violência excessiva na abordagem de um criminoso. “Os olhos digitais estão por toda a parte”, adverte o chefe, passando a mensagem de que tal comportamento não é mais tolerado com a mesma facilidade pela opinião pública e, portanto, uma mudança de postura fica sugerida.

    Mas o diretor e roteirista S. Craig Zahler (que vem se destacando por fazer um cinema de ação autoral, sem concessões e repleto de imagens fortes) não está interessado em oferecer algum tipo de redenção aos protagonistas. Pelo contrário, o cineasta arremessa seus personagens numa espiral de brutalidade e desafia o espectador a não desviar o olhar, guiando-nos em um ritmo contemplativo que tem mais em comum com antigos westerns do que com blockbusters recentes regados a tiro, porrada e bomba.

    Essa reverência ao passado favorece muito Mel Gibson, que aqui repete os trejeitos de papéis que lhe deram fama, como na franquia Máquina Mortífera. O ator, que ficou desvalorizado em Hollywood pelo histórico de declarações racistas e sexistas, parece totalmente à vontade interpretando um sujeito da chamada “velha guarda”. A dinâmica entre ele e Vaughn rende diálogos saborosos, com a camaradagem de dois antigos parceiros.

    A trama da dupla de policiais vai se cruzando com a de outros personagens, como um ex-detento disposto a um último golpe para mudar de vida, um matador frenético e anônimo, e uma mãe com dificuldades para voltar ao trabalho num banco após a licença maternidade, papel de Jennifer Carpenter (da série Dexter).

    Como quase todas as mulheres que aparecem em Justiça Brutal, a participação de Carpenter é rápida e sua personagem encontra-se numa situação nada favorável -- para dizer o mínimo. Talvez seja parte da proposta “old school” defendida por Zahler, mas não deixa de causar estranheza após tanta discussão nos últimos anos sobre como os gêneros são retratados no cinema.

    Ao não seguir cartilha nenhuma em particular, o filme tem o mérito inegável de ser imprevisível, o que é suficiente para manter a tensão pelas quase três horas de duração. Com um certo niilismo, o cineasta não parece convencido de que há salvação para um mundo corrompido e violento por natureza.

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