Nos dias atuais, é cada vez mais comum vermos casais que, após se casarem, decidem adiar o sonho de serem pais, passando a privilegiar o desenvolvimento de suas carreiras profissionais ou a colocação em prática de certos planos que possuem. Em consequência disso, temos também o aumento da idade em que os casais decidem tentar ter filhos, o que, muitas vezes, acaba decorrendo no aumento do número de pessoas que procuram ajuda especializada para a realização desse sonho, seja por meio de fertilização in vitro, da barriga de aluguel, da doação de óvulos e, até mesmo, da adoção.
O filme Mais uma Chance, dirigido e escrito por Tamara Jenkins, retrata uma história desse tipo. O casal Rachel Biegler (Kathryn Hahn) e Richard Grimes (Paul Giamatti) estão na casa dos 40 anos, são dramaturgos/escritores/produtores teatrais bem-sucedidos e que, pelo que está subentendido, já há alguns anos estão se submetendo a tratamentos para poderem realizar o sonho de serem pais. Além do custo financeiro, Rachel e Richard chegaram num ponto em que o psicológico deles já está no limite, após tantas tentativas mal sucedidas.
A esperança renasce quando a sobrinha deles, Sadie Barrett (Kayli Carter), decide ir morar com eles e considera a possibilidade de se tornar doadora de óvulos para que possam ser fecundados e convertidos numa gravidez da tia. Além desta chance, Rachel e Richard também se inscrevem em um processo para a adoção de uma criança.
Mais uma Chance, portanto, além de seguir a rotina dura e difícil que se estabelece na vida de casais que fazem de tudo pela chance de terem um filho, também nos mostra o amadurecimento de Sadie, que vai se encontrando como pessoa e como profissional na medida em que vivencia de perto esta jornada com os tios.
Esta é a primeira incursão de Tamara Jenkins na direção de um longa-metragem depois da experiência vivida com A Família Savage, filme indicado a 2 Oscars, em 2008. Em comum entre as duas obras, o fato delas retratarem bem de perto conflitos familiares. A diferença em Mais uma Chance é que o filme, apesar de estar envolto de silêncios e de um clima muito melancólico, que revela todo o desgaste vivido por Richard e Rachel na vivência da situação central da trama; é que o longa, ao mesmo tempo, tem um tom muito otimista e delicado e que nos confirma que, para viver aquilo que mais desejam, Richard e Rachel estão dispostos a tudo, até mesmo a se colocarem de uma maneira extremamente vulnerável diante da possibilidade de saírem ainda mais machucados disso. Neste sentido, vale elogiar as maravilhosas atuações de Kathryn Hahn e Paul Giamatti, que concedem uma humanidade enorme às suas personagens.