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    Memórias da Dor
    Média
    3,2
    16 notas
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    4,0
    Enviada em 16 de junho de 2019
    (Insta: @cinemacrica)
    Antes de tudo, preciso fazer a ressalva de que esse é o típico filme que pode entediar uns e encantar outros. Atribuo a essa a polarização o fato de que a cadência é bastante espaçada, os fatos são apresentados de forma reflexiva numa inércia propositalmente apática. Entretanto, esse recurso, tomado como um dos elementos centrais pelo diretor Emmanuel Finkiel, não se configura como deslize, mas como uma poderosa ferramenta narrativa.
    Essa proposta se desenrola na França em meio a ocupação nazista. A escritora Marguerite passa os dias sozinha após a captura do marido que era membro de um grupo de resistência à invasão alemã. As atividades que lhe restam não são muito excitantes e rodeiam entre interações discretas com esse mesmo grupo que também é membra. A rotina é quebrada quando um oficial da Gestapo demonstra interesse em seu trabalho literário. Há reciprocidade nesse magnetismo na medida em que Marguerite encontra no novo contato uma forma de receber notícias do marido.
    Desenhado o cenário, Finkiel se aprofunda num interessante exercício de ambiguidade psicológica centrado de forma pesada e hábil na personagem principal. Se a narrativa é rápida e toca em elementos paralelos, por vezes, diz-se que a tratativa dramática do objeto principal é superficial. Se o foco dos conflitos internos são estreitos e extensos, não raramente são adjetivados de morosos. Em "Memórias da Dor", acredito ser injusta a segunda observação. Finkiel não tem pudor de nos apresentar planos longos, silenciosos, pálidos, melancólicos, mas extremamente funcionais. Nada mais apropriado para transparecer o conflito psicológico da protagonista. Achar que Marguerite apenas remói a falta do marido é uma leitura superficial, a personagem está um passo além e tem dúvidas sobre o seu real interesse na vida conjugal.
    A ambiguidade construída é tamanha e tão bem executada que a dúvida da personagem se torna a dúvida da audiência. Graças aos planos contemplativos é possível internalizar essa angústia e enxergar que a personagem padece de clareza interior. Como já comentado, não é um filme para todos os gostos. Caso goste de explorações psicológicas densas é uma excelente opção.
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