Retrato de um fracassado
por Francisco RussoFilho de um jornalista consagrado, Iván Granovsky cresceu em uma família de classe média alta, acostumado aos mimos e benesses de quem tem uma boa quantia na conta bancária. Ao chegar à vida adulta, sem saber o que fazer, passou a tentar empregos pitorescos, que lhe oferecessem um certo controle e alguma criatividade - nada deu certo! O ego inflado o levou à tentativa de se tornar um correspondente de guerra, mesmo sem preparação para tanto - na verdade, meio como desculpa para viajar mundo afora às custas do cartão de crédito da mãe.
Este breve (e incompleto) currículo pertence ao diretor e protagonista de Los Territorios, documentário de cunho pessoal que nada mais é do que a tentativa bem-sucedida de seus vários fracassos de carreira. Com um asterisco importante: bem-sucedida porque o filme existe, não porque é bom.
Como uma roleta russa, o documentário inicia com um jogo envolvendo bandeiras de países e suas capitais, sem saber aonde apontar. Trata-se de um simbolismo do que acontece na narrativa do filme, que acompanha as tentativas e insucessos do diretor/astro sem jamais esconder seus abusos e caprichos, das cantadas escancaradas a todas às mulheres que conhece por motivos profissionais à dependência sem pudor do dinheiro dos pais para todo e qualquer ato, inclusive rodar este documentário. Mais ainda: em vários momentos, o foco recai na incapacidade do próprio Granovsky em entregar um material consistente, como acontece no desperdício da entrevista com Lavezzi, astro do Paris Saint-Germain.
Nesta jornada egocêntrica, o que há de interessante são as experimentações de narrativa que Granovsky executa. Em meio às cenas documentais em primeira pessoa e conversas com pais e conhecidos, há não só uma profusão de bandeiras como também de e-mails pessoais, que ressaltam seus desvios de caráter. Por mais que seus atos sejam altamente questionáveis, ao ponto de provocar uma forte antipatia pelo personagem central, é interessante a forma como ele adapta ao roteiro e ao próprio ritmo da narrativa suas incertezas sobre o que fazer e aonde fazer. É como se arte imitasse a vida, em suas incertezas.
Soma-se a isto um punhado de mensagens relevantes acerca dos bastidores do jornalismo, especialmente a partir do pai do diretor/astro e de seu conhecido que trabalha na revista francesa Charles Hebdo. Questionamentos acerca de correspondentes de guerra também merecem destaque, pelo esforço em desmistificar tal profissão - a partir do olhar do diretor/astro, é bom ressaltar.
No fim das contas, Los Territórios é um filme de personagem que se vale não do que apresenta, mas de como apresenta. É no processo de realização que o documentário provoca algum interesse, não apenas devido à personalidade de seu protagonista mas também pela ausência de mais informações em momentos relevantes. Há também um excesso intrínseco à insegurança da vida/narrativa retratada, não só de locais visitados como, também, no tempo de duração. Fosse uns 20 minutos menor, o filme ao menos seria menos cansativo.