(Quem cantará suas canções?
Abrindo um parêntese antes de falar do filme (A Netflix está cada vez mais assertiva na produção dos seus filmes e investindo em ótimos roteiros.
A primeira cena do filme – dramática –, já dá o tom de como será a história. Que começa com uma mulher tentando reanimar outra, que, até então, tinha se afogado no mar.
Lila Cassen (Najwa Nimri) é uma talentosa cantora de Indie, porém, está sem gravar novas músicas há 10 anos, desde a morte da sua mãe. Antes do incidente no mar, sua assessora e salvadora, estava prestes a jogar as cartas na mesa sobre a difícil situação da carreira e a importância dela voltar aos holofotes, a fim de não precisar abrir mão da sua luxuosa casa de praia e estilo de vida. Blanca (Carme Elías) é a sua fiel assessora e fará de tudo para o grande retorno.
Após o acidente em que perdeu a memória, Lila volta para sua casa desconhecida e cheia de mistérios, e tem a árdua tarefa de se redescobrir e voltar aos palcos. No entanto, isso não será uma empreitada descomplicada: ela não sabe mais cantar.
Longe da vida de riqueza e glamour, Violeta (Eva Llorach) trabalha num bar, é cantora de karaokê e dubla as canções de Lila, sua grande inspiração. Leva uma vida muito simples, contudo, o importante é ter saúde. É honesta e tem um bom caráter. Já Marta (Natalia de Molina), a filha, é uma adolescente patética, rebelde, preguiçosa, mercenária, sem escrúpulos e cheia de joguinhos emocionais, e Violeta é totalmente submissa à diabólica filha. As duas tem um relacionamento pouco amistoso e é no palco que a mãe se liberta da vidinha que tem.
Porem, em uma noite de estafa mental, Violeta resolve talvez se despedir da vida e sob a luz do luar começar a adentrar ao mar, quando um convite misterioso que vai mudar sua vida é feito. Mas, sua filha maquiavélica pode arruinar todo um sonho mágico.
Uma trama instigante, intensa e dramática – como uma boa narrativa espanhola. Possuí alguns momentos compassados que se transformam em ápices de roer as unhas, tudo ao som de uma música eletrônica que eleva a narrativa ao puro suspense psicológico.
Ao longo do filme as personagens tem que amadurecer de alguma forma e descobrir suas reais identidades. Um mix de situações regem as quatro mulheres: expectativas, fidelidade, laços de amizades, falsas promessas, sonhos partidos, segredos... que ao final se transformam em um shake explosivo.
Uma composição única, que possuí uma estética notável, refinada, moderna e clean, que o diretor Carlos Vermut nos presenteia.
É um filme maravilhoso, porém, para poucos. Ainda mais num mundo, onde a maioria das pessoas está acostumada com explicações mastigadas e finais estilo Sessão da Tarde, “Quién te cantará” está em outro patamar, deixando inúmeras reflexões e inquietude.
Por fim, a trilha sonora é primorosa. A canção final pode ser ouvida aqui: https://www.youtube.com/watch?v=xInuLQBvglA