Minha conta
    As Filhas de Abril
    Críticas AdoroCinema
    5,0
    Obra-prima
    As Filhas de Abril

    Laços de família

    por Francisco Russo

    Como é bom assistir um filme que te deixa extasiado e atordoado ao final. Sem exagero, esta foi a sensação proporcionada por Las Hijas de Abril, novo filme dirigido por Michel Franco.

    Quem acompanha a filmografia do diretor mexicano, terá a oportunidade de reconhecer vários de seus cacoetes estilísticos e narrativos: da busca pelo verossímil à ausência de closes, das complicadas relações familiares à brutalidade e crueldade de certos atos. Não por acaso, há muito de Depois de Lúcia neste longa-metragem - só que, desta vez, o impacto é ainda maior.

    Já na primeira sequência de Las Hijas de Abril, a direção brilha graças ao meticuloso trabalho no posicionamento de corpos e objetos dentro do cenário apresentado, de forma a paulatinamente revelar sua personagem principal - um cuidado que, lá no final, voltará a ter função narrativa. Assim conhecemos Valéria, uma jovem de 17 anos que, grávida, vive com a irmã mais velha, Clara (Joanna Larequi). Ela não quer de jeito algum que sua mãe saiba da situação, mas acaba desmascarada pela própria irmã. Desta forma, Abril parte para a casa das filhas, decidida a ajudá-las.

    Apenas neste preâmbulo, Franco também se destaca pela naturalidade com a qual o sexo é apresentado, e invejado. Há entre estas três mulheres uma dinâmica com personalidades muitos distintas, complementares e ao mesmo tempo destoantes, de forma a provocar expectativas - nem sempre cumpridas - sobre o que está por vir. Além disto, o diretor demonstra, uma vez mais, sua impressionante habilidade na condução do tempo de espera, que possui um papel fundamental no ritmo e na tensão crescente que está por vir.

    A partir de um desconcertante crescendo de absurdos, como também acontecia em Depois de Lúcia, Las Hijas de Abril subverte questões acerca dos laços familiares de forma a ressaltar, cada vez mais, o individualismo. Mais sobre a história não deve ser dito, sob risco de prejudicar a deliciosa experiência que é se surpreender a cada instante. Basta dizer que o roteiro, escrito pelo próprio diretor, não possui qualquer excesso: todas as informações entregues são precisas, e serão exploradas mais a frente.

    Em meio à excelência na direção e roteiro, é preciso também destacar o trabalho de Emma Suárez na construção da personagem-título e da estreante Ana Valeria Becerril, como Valeria - basta reparar em seus sorrisos, tão significativos e tão distintos a cada momento que aparece. Excelente filme, que repercute por um bom tempo após o término da sessão e, mais uma vez, demonstra como Michel Franco sabe conduzir uma história.

    Filme visto no 70º Festival de Cannes, em maio de 2017.

    Quer ver mais críticas?
    Back to Top