Na estrada
por Francisco RussoPor mais que não tenha tanta repercussão na mídia nacional, devido à popularidade restrita do heavy metal, fato é que o Sepultura é a banda de maior alcance mundial na história da música brasileira. Tal constatação é fácil de ser apurada, basta pesquisar os números obtidos pelos álbuns lançados e as turnês realizadas, nos mais variados países. Diante desta trajetória, chega a surpreender que, apenas ao chegar aos 30 anos de vida, a banda enfim seja tema de um documentário. Reflexo do preconceito inerente ao metal? Talvez.
Dirigido por Otavio Juliano, que trabalhou no longa-metragem ao longo de seis anos, Sepultura Endurance é um grande revival da história da banda que, apesar de suas boas intenções, está longe de encerrar as possibilidades sobre o tema. Em parte devido às limitações decorrentes das recusas dos irmãos Max e Iggor Cavallera em participar do documentário, o que não só impede uma visão mais plural sobre a saída de ambos - em momentos e devido a causas distintas, é bom ressaltar - como também impossibilita o uso de canções antigas gravadas com a voz de Max. Tal detalhe impede uma melhor compreensão do espectador leigo acerca da troca de vocalistas, especialmente no sentido da mudança sonora pela qual passou a banda após a entrada de Derrick Green, algo ressaltado apenas através de relatos de analistas e pessoas próximas.
Ainda assim, Sepultura Endurance oferece um bom material sobre seu objeto de estudo. Se depoimentos de ícones do heavy metal, como Lars Ulrich (Metallica) e Corey Taylor (Slipknot), dão à banda a reverência internacional conquistada ao longo dos anos, é através dos relatos pessoais de Andreas Kisser e demais pessoas ligadas à história do Sepultura que, aos poucos, é montado o quebra-cabeças que resultou na inusitada história de uma banda brasileira de heavy metal alcançando renome mundial. Seja sob o aspecto revisionista ou como mera curiosidade, é interessante ver Kisser retornando a locais marcantes do passado de forma a ressaltar o quanto tudo mudou desde então, tanto em relação à banda quanto ao próprio local apontado. É neste aspecto íntimo, revelado ao público de forma intencional (ou não), que o documentário alcança seu maior brilho.
Ainda neste sentido, chama a atenção o enfoque dado pelo diretor ao longo da narrativa. Iniciando o documentário no presente, com a formação atual da banda, Juliano estabelece as constantes mudanças como a linha-mestre a ser seguida, rapidamente estabelecendo o desgaste das turnês como um dos vilões a ser combatido. Se por um lado tal solução serve para de imediato apresentar os integrantes atuais, por outro soa um tanto quanto desconexo quando o documentário investe de vez em seu lado revisionista. Por mais que o tema central permaneça sempre o mesmo, em torno do Sepultura, a mudança de eixo na estrutura narrativa causa um certo estranhamento.
Sepultura Endurance funciona a contento como homenagem à história da banda, ressaltando sempre as mudanças - de som, de integrantes - ocorridas ao longo de sua trajetória, mas deixa a desejar no grau de profundidade que poderia ser alcançado. Não apenas pelas ausências dos irmãos Cavallera, mas também em detalhes como uma melhor explicação sobre o porquê de Belo Horizonte ter gerado um cenário tão interessante envolvendo o heavy metal ou informações mais apuradas sobre cada um dos discos lançados, especialmente os mais emblemáticos. Detalhes que, se já são do conhecimento dos fãs mais ferrenhos, fazem falta aos iniciantes do universo do Sepultura e do heavy metal brasileiro.