New rules
por Taiani MendesO início do século XXI viu florescer uma nova onda da comédia romântica adolescente gerada nos Estados Unidos para gerar “awwwns” ao redor do mundo. Amanda Bynes pode ser considerada a rainha do movimento, tendo estrelado marcos como Tudo Que uma Garota Quer, S.O.S. do Amor e Ela é o Cara, mas outros expoentes foram Lindsay Lohan (Sorte no Amor) e Hilary Duff (A Nova Cinderela).
Em 2010 Bynes já estava aposentada; LiLo, enfrentando problemas com a justiça, álcool e drogas, tentava uma guinada na carreira em Machete; e Duff fracassava na transição para o romance cômico adulto com Beleza no Mundo dos Negócios. Joey King (7 Desejos), então uma criança de 11 anos, despontava em Ramona e Beezus, ao lado de Selena Gomez. Agora maior de idade, King busca em A Barraca do Beijo reacender a chama das produções modestas construídas em cima do carisma da personagem principal, da beleza do moço e do calor dos beijos entre os dois.
Se há algo digno de elogio no longa que chegou este mês ao catálogo da Netflix, é a jovem atriz, nascida no ano em que estreava 10 Coisas que Eu Odeio em Você. Como uma legítima herdeira dos estilos de Goldie Hawn e Cameron Diaz, com pitadas de Sandra Bullock, ela constrói uma protagonista espirituosa que apronta e usa a sexualidade como arma sem crise de arrependimento desmedida na cena seguinte. Reparando na lastimável masculinidade que cerca Elle, seria realmente difícil ela não se destacar. A jovem é uma ilha em meio a personagens babacas abusivos e interpretações limitadas de rapazes escolhidos pela profundidade dos suspiros que são capazes de provocar - Joshua Daniel Eady, que vive Tuppen, é o cúmulo da ruindade.
A Barraca do Beijo adapta história escrita por uma estudante de 15 anos (sem qualquer noção do que significa namorar escondido) e segue a fórmula conhecida do amor impossível colegial. A maior diferença é que, para além das situações divertidas durante a árdua conquista do atleta gatinho e garanhão, surge um cabisbaixo drama sobre amizade, que dá o tom da arrastada segunda metade do filme – a sensação é de queda livre quando o romance cede lugar à crise, relacionada ainda à inveja fraterna.
Vince Marcello, diretor e roteirista, conduz melhor o começo dinâmico, bem Disney Channel, mas mostra-se longe de poder ser considerado bom realizador e sequer contou com uma equipe capaz de compensar seus fracos. A decupagem é bizarra, com cortes sem qualquer ritmo e fora do tempo; ninguém se deu ao trabalho de tentar disfarçar a perturbadora diferença de altura entre Elle e Noah, um dos truques mais antigos da sétima arte; e a direção de atores é vergonhosa. Há uma narração (inclusive de pensamentos) da protagonista que serve apenas para provar que o cineasta faltou à aula que explicava que nem tudo precisa ser posto em palavras – ainda mais quando a interpretação é expressiva – e não existe descrição que dê conta da cena de corrida na chuva mais ridícula já inserida em um filme não paródico.
O flerte da trilha sonora com os anos 1980 e Molly Ringwald (na adolescência estrela das obras de John Hughes) como mãe dos meninos são o mais perto que a comédia romântica dramática consegue chegar da “era de ouro” do cinema teen. A Barraca do Beijo é telefilme irregular demais até na comparação com os títulos nada espetaculares citados no começo da crítica, porém a regra desse subgênero nunca foi impressionar.