(Insta: @cinemacrica) - O diretor Christian Petzold trata o conceito da flexibilização como ponto central. Remetendo ao título da obra, esse ponto objetivado é o que permite a exploração de elementos transitáveis. O que parecia de início um filme de época, desemboca, logo após a introdução, numa capital europeia com o um intenso tráfego de veículos modernos. Na trama, Georg, um fugitivo alemão, busca sobreviver e emigrar de um território francês ocupado pela Alemanha nazista.
Sim, é exatamente isso. Cenografia do século XXI num enredo de Segunda Guerra Mundial. Preferências à parte, já que a opção não foi um acidente, mas uma adoção proposital, considero questionável o valor do recurso como diferenciador cinematográfico. A permissividade temporal incorpora outros elementos, como o uso de cartas e adoção de meio de transportes como trens e navios. Ao meu ver, a opção não prejudica, mas não é o que torna o filme acima da média, felizmente Petzold nos apresenta outras construções interessantes.
Esse caráter fluido é bem incorporado pelo protagonista. Há um bom trabalho em transmitir o quão volátil é viver em condições como as de Georg. Não bastando a iminência de ser capturado pela polícia, é ainda mais doloroso conviver com o desapego da essência humana. O não pertencimento torna as interações sociais superficiais; quando não ausentes por conta do medo. De forma sensível, o personagem principal esboça o exercício da paternidade com um garoto da periferia de Marselha e um romance morno com uma mulher de nome simples, Marie, e igual instabilidade como o conjunto em que se assenta a narrativa. O que potencializa todas essas amostras é o trabalho bem sucedido de Georg interpretar alguém que é introspectivo. Mesmo aqueles mais fechados precisam de aberturas humanas.
Na queda de braço entre suspense e drama, “Em Trânsito” tem mais sucesso no segundo gênero. É um filme prazeroso de ser visto, mas, além da ressalva do gênero predominante, fica a observação da flexibilização de elementos.