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    O Juízo
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    O Juízo

    A falta que o discurso faz

    por Sarah Lyra

    Todo projeto audiovisual, independentemente do sucesso em suas pretensões iniciais, parte de um desejo de expressar algo. Quando essa necessidade de comunicar se une à linguagem e à técnica, o discurso costuma perseverar, mesmo diante de possíveis limitações. Talvez a grande dúvida pairando ao final de O Juízo seja sobre o que, de fato, deseja falar. O que impulsiona sua narrativa? Por que estes personagens e não outros? No que se difere diante de tantas obras de suspense? Embora se apresente correto em muitos aspectos, falta ao longa de Andrucha Waddington uma vontade de falar que transcenda o método. 

    Durante a projeção, a sensação é a de que o cineasta estava em posse de um manual de como fazer suspense, e foi destacando aquilo que gostaria de ver em seu filme. É diferente de um processo mais orgânico, onde a linguagem se desenvolve e entrelaça a partir das imposições do próprio discurso. O protagonista Augusto (Felipe Camargo), embora tomado por uma dor constante, nunca parece realmente acessível ao espectador. É difícil determinar quais são suas questões, o que o move, como se dá a relação com esposa e filho, e por que se sente tão atormentado pelo passado.

    Frequentemente, o roteiro emprega frases que poderiam ser ditas por um personagem similar em qualquer outra produção. Não temos acesso às particularidades do protagonista, e os diálogos excessivamente formais e engessados não contribuem para um maior dinamismo entre o trio principal. Há de se reconhecer a tentativa de Waddington em manter um tom de mistério a partir do silêncio que assola o casarão da família, mas essa ausência de falas soa gratuita na maior parte do tempo, como se estivesse mais empenhada em reproduzir algo visto anteriormente do que em agregar à trama.

    A fotografia fria e dessaturada em tons de azul e verde tem seu mérito pela exuberância com que destaca o misticismo das montanhas, principalmente em seus planos abertos, cuja função é de ressaltar a insignificância da casa e dos moradores que a habitam quando justapostos à natureza. Em dado momento da trama, no entanto, é possível notar que não apenas a luz ambiente é esverdeada, como também os elementos da direção de arte e de figurino. Paralelamente, percebemos que tanto os personagens principais quanto os secundários, como Dr. Lauro (Fernando Eiras), são vistos com roupas em diferentes tons de verde em uma mesma cena. Apesar da tentativa de adotar a cor como um elemento revelador para a história, falta sutileza e equilíbrio para compor o visual do filme.

    De todos os elementos linguísticos, porém, o que mais destoa na obra é a montagem. Além das transições, muitas vezes abruptas e desconexas, os closes se tornam exagerados, principalmente quando pouco comunicam. Note como a câmera se aproxima rapidamente do rosto de Marinho (Joaquim Torres Waddington) no momento em que ele diz à mãe que não quer voltar à cidade. Uma revelação importante, mas não exatamente enigmática ou estrondosa como a trilha sonora e o movimento de câmera tentam sugerir. São momentos assim, recorrentes ao longo do filme, que entregam o desejo de ter uma sofisticação técnica, mas com um discurso que nem sempre condiz com os recursos utilizados.

    Com um terceiro ato alongado e recheado de explicações fáceis (“você já se perguntou por que tudo dá errado na sua vida?”, diz o personagem de Criolo, reforçando o que já era óbvio), O Juízo consegue dar uma desfecho “redondo” para a trama. Sem jamais imprimir uma marca autoral ao projeto, no entanto, Waddington parece impulsionado pelo desejo de reproduzir mais do que pelo de criar.

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