A importância de não cortar os laços com o passado
por Barbara DemerovHistórias marcadas por uma boa dose de fantasia em meio a realidade são marcas registradas da Disney, assim como a atenção dada a estes dois âmbitos também faz parte do cinema do diretor Marc Forster. Talvez seja por essa abordagem que Christopher Robin - Um Reencontro Inesquecível funcione tão bem: ao mesclar o imaginário com o factual de forma espontânea, o filme chega ao ponto de tornar natural a jornada de (re)conhecimento que o protagonista vive. Fantasia e realidade podem conversar muito bem entre si.
Na pele do personagem-título, Ewan McGregor vive uma figura cuja identidade se aproxima com as de muitos filmes sobre jornadas particulares – mesmo que trabalhadas com diferentes roupagens. É o típico adulto cético que não enxerga mais cores em sua rotina, ainda que viva na companhia de uma filha pequena e uma esposa encantadora. Por mais que goste de seu trabalho, sua vida se condensa ao redor dele e, principalmente, na falta de reconhecimento que recebe do chefe.
Como o filme bem mostra, o brilho da vida de Christopher é concentrado em determinada fase da infância, dentro de um refúgio imenso e cheio de vida junto da convivência diária com Ursinho Pooh, Tigrão, Leitão, Ió, Kanga, Guru, Abel e Corujão. Tais criaturas, há muito presentes em livros e animações, são apresentadas de uma forma mais modesta que nos desenhos, pois até mesmo suas cores são menos contrastadas. De forma singela, o filme utiliza a coloração para nos aproximar do Bosque dos Cem Acres, tornando sua existência acessível e descomplicada.
Christopher Robin - Um Reencontro Inesquecível não se preocupa em explicar como e porquê aquele local e suas criaturas estão ali, presentes no passado e presente do protagonista. Todo este universo é um instrumento de análise particular, com o adulto se vendo preso em um estilo de pensar que não condiz com o que sonhava quando menino. Marc Forster trabalha de forma exímia a reaproximação de Christopher com cada um de seus amigos ao sortir momentos cômicos e inusitados, enquanto o roteiro de Alex Ross Perry atinge uma seriedade notável com diálogos fortes e emocionantes.
Em dado momento do filme, Christopher diz a Pooh: “eu estou rachado”. Com sua inocência, o pequeno urso responde: “eu não vejo nenhuma rachadura; apenas umas rugas, talvez”. Nesta e outras conversas entre os dois personagens, o filme deixa clara sua mensagem: olhar para trás demonstra a importância de não perder sua essência. Ao entrar por aquela porta na árvore, Christopher se reabre e, com isso, se reequilibra.
Externamente, Christopher Robin - Um Reencontro Inesquecível pode parecer apenas mais um filme feito para entreter crianças. Mas o verdadeiro alvo são os adultos, os mais próximos de uma rotina cujo reflexo pode ser rígido e até mesmo severo. No fim das contas, quem sairá do cinema encantado com a riqueza da história não será apenas o público infantil. E, convenhamos, não há nada mais Disney do que isso.