Um detalhe é muito importante e não passa despercebido por um espectador mais atento, enquanto estamos assistindo ao filme A Esposa, dirigido por Björn Runge: os silêncios, em meio ao sentimento de desconforto, que a personagem Joan Castleman (Glenn Close, em performance indicada ao Oscar 2019 de Melhor Atriz) nos passa. Essas nuances são alguns dos sinais iniciais de que nada nessa historia é aquilo que parece.
Quando A Esposa começa, estamos diante de um inquieto Joseph Castleman (Jonathan Pryce). Sua angústia tem motivo. Como saberemos a seguir, Joe não só estava cotado, como acabaria se tornando o vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 1992 (ano em que o filme se passa). Sua incredulidade diante do acontecimento vem acompanhada de uma Joan chocada, quase anestesiada, diante do anúncio.
O roteiro escrito por Jane Anderson (tendo como base o livro escrito por Meg Wolitzer) enfoca o olhar justamente sobre o pós-anúncio do prêmio, principalmente sobre os acontecimentos que ocorrem em Estocolmo, num momento anterior à entrega do Nobel, quando Joe e Joan viajam, acompanhados do filho David (Max Irons). O prêmio traz à tona os últimos 40 anos da vida de Joe e Joan como casal, quando ela sacrificou suas aspirações, passando a viver, praticamente, a vida do marido, como sua apoiadora, ou, como Joe bem define, como a sua verdadeira metade.
Justamente por lançar o olho em cima do casal Joe e Joan, o que acaba chamando mais a atenção em A Esposa é o verdadeiro duelo de atuações entre Glenn Close e Jonathan Pryce. Ambos estão perfeitos na pele de um casal que, apesar da vida pública, conseguiu se fechar tanto ao ponto de manterem intactos segredos que seriam sufocantes para alguns – o que também explica muito destes sentimentos que Joan nos passa.