Menos inventividade, mais sangue
por Kalel AdolfoO primeiro capítulo de O Homem nas Trevas reúne todos os elementos de um bom suspense: história objetiva, execução inventiva e um elenco competente que consegue nos manter conectados emocionalmente durante toda a experiência. Portanto, a notícia de que a obra sufocante de Fede Alvarez (A Morte do Demônio) ganharia uma continuação preocupou alguns fãs do projeto. Como atingir a engenhosidade do longa sem soar repetitivo?
Mas de forma surpreendente, o cineasta Rodo Sayagues — parceiro de longa data de Fede — consegue entregar uma sequência sólida, repleta de ambientações claustrofóbicas e definitivamente mais sanguinária que o volume anterior. Tudo bem, não há muitos motivos para O Homem nas Trevas 2 ter sido desenvolvido. Porém, a produção oferece doses elevadas de adrenalina — e flertes com o subgênero slasher — que são sempre bem-vindos.
Roteiro se afasta das raízes e propósitos do primeiro filme
Alguns anos após a invasão retratada no primeiro longa, Norman Nordstrom vive isolado com a sua filha em uma residência distante da movimentação urbana. Porém, em certo dia, um grupo de criminosos sequestra a menina, obrigando o personagem de Stephen Lang (Avatar) a resgatar a sua conhecida personalidade brutal.
O maior erro desta sequência é tentar humanizar Norman. Até porque, um dos pontos mais provocativos de seu antecessor é apresentar personagens duvidosos enfrentando situações extremas. Os bandidos não estavam certos ao tentar roubar a fortuna de um idoso cego. Porém, isso não descarta a repugnância dos atos de Nordstrom, que pune os invasores de maneira desproporcional e sádica.
Diante de um embate como esses, fica difícil escolher lados. Porém, a obra dirigida por Fede consegue nos conectar a esses indivíduos tão problemáticos, trazendo à tona reflexões que ultrapassam a esfera do suspense. Esse não é o caso de O Homem nas Trevas 2.
No lugar de uma proposta multifacetada, há um roteiro que separa claramente os mocinhos dos vilões. Todo o ar desafiador da saga é perdido. Desta vez, o que temos é uma história enérgica, estranhamente divertida, porém desprovida de propósito e inovação.
Execução aproxima o filme do subgênero slasher
Mas claro, se o roteiro peca em entregar originalidade, ele satisfaz — e muito — o apetite dos fãs de slashers. Existem dois atos muito bem distribuídos na produção: o primeiro gira em torno da perseguição sofrida por Norman e Phoenix, que precisam escapar dos criminosos implacáveis que são tão habilidosos quanto o nosso anti-herói cego.
Nesta porção do roteiro, Rodo Sayagues replica algumas características da franquia, como as ambientações claustrofóbicas, mortes brutais — que são surpreendentemente mais gráficas — e um jogo de gato e rato que está sempre em constante alternância. Esconderijos, fugas urgentes e combates ditam o tom.
Já no segundo ato — que acontece após o sequestro de Phoenix — acompanhamos Norman em uma espécie de missão de resgate. Aqui, o diretor abre mão do suspense e mergulha na ação desenfreada. Apesar de não incomodar tanto, a escolha acaba diminuindo o senso de urgência e perigo da narrativa.
Exageros e dramas superficiais diminuem a credibilidade da história
Nem todos os excessos são bem-vindos: apesar do gore potencializar o impacto de inúmeras sequências, alguns acontecimentos improváveis diminuem a credibilidade da história. Além disso, certos pontos dramáticos — como o desejo de Phoenix em ser uma criança normal — são tão mal desenvolvidos que beiram a cafonice.
O treinamento da jovem na abertura do longa parece ter saído de qualquer produção convencional de heróis, e os conflitos familiares entre Phoenix e Norman apenas comprovam o quanto o projeto é superficial quando desvia a atenção para assuntos mais sérios.
Mesmo assim, quando assistimos a obra com um olhar menos analítico, é possível aproveitar os inúmeros momentos angustiantes da produção. Caso focasse exclusivamente no gênero que fez a saga encontrar sucesso, o seu desempenho seria ainda melhor.