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    Os Dois Filhos de Joseph
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    Os Dois Filhos de Joseph

    Homem, sexo frágil

    por Bruno Carmelo

    Não se nasce homem; torna-se. É isso que Joseph (Benoît Poelvoorde) explica à amante quanto fala carinhosamente sobre a ex-esposa: “Foi quando a conheci que a minha vida de homem começou”. O personagem atravessa um período de crise: ele acaba de perder o irmão, e abandonou a carreira de psicólogo para investir na literatura, o que não tem rendido bons frutos. Os filhos enfrentam situações igualmente turbulentas: o mais velho, Joachim (Vincent Lacoste), já foi um brilhante aluno de medicina, mas não consegue escrever sua dissertação de mestrado em psiquiatria, e corre o risco de ser reprovado. O mais novo, Ivan (Mathieu Capella), está apaixonado por uma colega que o despreza, enquanto nutre uma fascinação crescente pelo catolicismo.

    Em comum, os três homens enfrentam o fracasso e a dificuldade de comunicação, especialmente com o sexo feminino. Os Dois Filhos de Joseph se constrói como uma produção depressiva sobre homens igualmente depressivos: os cômodos onde os personagens transitam estão sempre escuros, mesmo à luz do dia, as falas são violentas ou entrecortadas por silêncios, discorre-se sobre a morte desde a cena inicial (a escolha do caixão) até a conclusão. Não existe espaço para leveza, nem mesmo para uma catarse capaz de expurgar tantos sentimentos. Os três personagens, muito parecidos entre si, permanecem introspectivos ao longo de toda a narrativa, sem sofrerem transformações notáveis. Eles começam e terminam suas trajetórias escutando a conversa uns dos outros atrás das portas, e estimando-se “tigres” dotados de um potencial adormecido (a metáfora animal aparece mais de uma vez na narrativa).

    Devido às semelhanças, o resultado é uma história de pouco relevo, tanto humano quanto cinematográfico. É comum que os personagens provoquem choques entre si pelas diferentes vontades e temperamentos; é esperado que se confrontem a situações que os tirem de sua bolha de introspecção. No entanto, o jovem diretor Félix Moati prefere mantê-los dentro da rígida leitura psicanalítica de homens impotentes e/ou castrados. A construção de personagens se torna simples demais: assim como na cartilha indie norte-americana, este drama acredita que o personagem será mais complexo à medida que acumular traumas, tiques e manias. Por isso, o adolescente Ivan não apenas está fascinado pelo Antigo Testamento, mas também é apaixonado por latim, além de querer beber álcool como um adulto e ser um tigre. O roteiro confunde complexidade com exotismo.

    Esteticamente, Moati opta pela câmera-personagem que acompanha o trio central onde quer que estejam, sempre com o enquadramento à altura dos olhos, como um quarto personagem onisciente. Não há variação expressiva de objetivas, de profundidade de campo, de ângulos. A tentativa de humor agridoce tampouco se transmite na escolha dos enquadramentos, nem mesmo nas elipses bruscas, que escondem a origem de algumas ações e, principalmente, suas consequências (o que poderia tornar estes personagens mais humanos e passíveis de identificação). A iluminação, inexplicavelmente escura, mergulha na escuridão alguns momentos de afeto. Já os diálogos ríspidos poderiam ser interessantes, caso não fossem os mesmos para os três protagonistas.

    A escolha do elenco chama a atenção: Moati trabalha com Benoît Poelvoorde e Vincent Lacoste, dois atores especializados em atribuir leveza ao drama. No entanto, retira deles qualquer humor autocondescendente, limitando as atuações do trio central ao registro bastante sóbrio. O resultado é uma obra fria, saturada de símbolos psicanalíticos. É evidente que existe uma reflexão por trás desta escolha sisuda de imagens e personagens. No entanto, por falta de contraste ou evolução, elas não permitem que a depressão masculina contemporânea se insira num contexto social mais amplo. Ao menos, as mulheres se destacam, a exemplo das personagens de Anaïs Demoustier e Constance Rousseau, que fornecem breves instantes de respiro entre tantas cenas crepusculares.

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