Alphonse (Al) Capone, um dos gangsters mais notórios de todos os tempos, dessa vez, retratado após sua longa e violenta vida de crimes. Já interpretado por diversas figuras icônicas no cinema, uma delas o próprio “Poderoso Chefão” Robert De Niro, o personagem do mafioso ítalo-americano agora é representado pelo versátil ator britânico, Tom Hardy.
O protagonista, atualmente, é 6 anos mais jovem do que o papel que interpreta, fato que jamais poderia ser percebido assistindo ao filme que apresenta o final decadente e quase verídico do mafioso.
A obra foca no último ano de vida de Al Capone e em suas lutas internas para suportar e continuar cada dia que lhe resta de vida, não por uma caçada policial e nem por uma onda crescente de crimes, fugas e traições, mas sim pelos arrependimentos e pela debilitada situação mental de um homem solto após uma década de encarceramento.
O filme pode ser descrito como um aprofundamento na confusão presente na mente do mafioso sem buscar redimi-lo de qualquer maneira, mas apenas mostrando o que foi em seu último ano de vida, um homem doente.
A obra semi-biográfica se baseia na mescla de cenas da realidade com os devaneios e ilusões criadas pela mente frágil e quebrada do gangster, acometido por neurossífilis durante seu período encarcerado. Raros são os momentos em que fica claro se o que está acontecendo está no mundo ou apenas na mente de Capone.
Transições sutis e constantes de ambientações substituem diálogos que quando proferidos soam como gritos, resmungos e ruídos animalescos vindos do criminoso com falas em um tom de italiano americanizado. No caso de um homem doente e historicamente violento, tal fato não tira mérito da interpretação feita por Hardy e nem sequer da obra em si, mas também não chega a aumentar sua qualificação.
Chafurdando no sangue e nas necessidades fisiológicas de Capone, como o filme retrata tantas vezes, fica difícil realmente se conectar com a atual situação do homem sem antes algum tipo de introdução ao que ele era antes.
Todos sabem sobre o mafioso Al Capone, mas na produção cinematográfica, fora um ou outro devaneio, não há nenhuma ambientação inicial para realmente conhecê-lo antes do que a obra visa, ainda que na ficção, ou ver e sentir compaixão pela pessoa que se tornou ao final.
Diversas situações da narrativa são puramente criação de Hollywood, como no caso do filho perdido de Capone, até o que se sabe atualmente. Contudo, por retratar o interior da mente doente do gangster, não é impossível o fato de relacionar as subtramas do roteiro e da busca por conciliação com seu herdeiro com os puros delírios experimentados e imaginados por seu protagonista claramente arrependido consigo mesmo (ou simplesmente esquecido de quem realmente foi).
Porém, até no que se pode descobrir verídico, existe uma tensão e um exagero na obra para permitir que acreditemos que tal situação ocorreu tanto na realidade quanto nos sonhos problemáticos do gangster, talvez um dos defeitos mais marcantes na produção.
O filme retrata pura e simplesmente o interior da mente de um ex-criminoso doente. Não há reviravoltas ou crescimento da trama envolvendo o protagonista ou os outros personagens. Todos os acontecimentos são frutos da confusão mental de Capone em seu último estágio de vida como um gangster inválido e um homem perturbado. Tal abordagem não pode ser considerada errônea pois é justamente o que o filme e a direção buscam focar.
Se o filme tinha a intenção de imaginar os últimos momentos da persona desorientada de Capone, a obra conseguiu tal mérito, mas não se sobressaindo ao exagero que muito provavelmente não ocorreria nem com o gangster mais famoso de todos os tempos.
Tom Hardy consegue uma interpretação animalesca, porém muito boa de um personagem interessante, mas pouco crível em um filme que até consegue ser interessante, mas não passa disso.