A fórmula do humor
por Taiani MendesRealizado com uma mixaria para os padrões hollywoodianos, Perfeita é a Mãe foi uma das grandes surpresas do ano passado nas bilheterias, arrecadando quase US$ 200 milhões mundialmente. A proposta era simples e cativante: mães que se cansam da pressão da sociedade e jogam para o alto as exigências entrando numa espiral rebelde de bebedeiras, noitadas e amor próprio em primeiro lugar.
Ao fim do filme resolvidas no que tange ao equilíbrio entre zelo familiar e interesses pessoais, Amy (Mila Kunis), Kiki (Kristen Bell) e Carla (Kathryn Hahn) reaparecem em Perfeita é a Mãe 2 atormentadas pelo “espírito natalino” que transforma mulheres em “criadoras do perfeito mundo mágico” e compradoras de presentes. Além da neve, a estressante época as oferece inesperadas visitas de suas respectivas mães e assim a comédia traz os problemas para dentro de casa.
Substituindo a escola das crianças pelo seio familiar como sede dos conflitos, a sequência segue exatamente a receita que deu certo anteriormente, ajustando apenas pequenos pontos, adotando o flashback e aproveitando o carisma e talento das adições Christine Baranski (como a rigorosa mãe de Amy), Susan Sarandon (como a desprendida mãe de Carla) e Cheryl Hines (como a intrusiva mãe de Kiki). Pelo tempo curto de desenvolvimento era de se esperar algo pouco inspirado, mas o filme não chega a desagradar. Pelo contrário, entra na lista das raras continuações que seguram o nível do antecessor.
A maternidade é mantida como tema, só que discutido agora pela relação das mães com suas mães - o que coloca as crianças em posição de menor destaque. Na teoria isso abriria espaço para questões mais adultas, no entanto na prática a elevação da idade média do elenco principal só reflete em discussões mais pesadas, mais palavrões e mais piadas de cunho sexual. Permanece bem adolescente a noção dos realizadores Jon Lucas e Scott Moore do que constitui o humor destinado ao público feminino adulto, baseada em pênis e the f word. É inegável que funciona, mas... só isso?
Ruth (Baranski), Sandy (Hines) e Isis (Sarandon) são basicamente versões exageradas de suas herdeiras e a ideia de pluralidade buscada na composição do trio protagonista se repete tanto em termos de personalidade, quanto de relacionamento. Uma é casada, a outra solteira convicta e a terceira ainda se adapta à viuvez. Ruth só sabe criticar a filha, que a teme; Sandy é tão grudenta quanto adorada por Kiki; e Isis faz falta na vida de Carla, facilmente manipulada via migalhas de atenção.
Personagem número um do primeiro filme, Amy – e consequentemente Ruth – continua tendo mais tempo de tela do que as amigas, mas a incrível Hahn é recompensada pelo talento de ter roubado todas as cenas em Perfeita é a Mãe ao adquirir importância maior na narrativa, inclusive estrelando o principal romance. Justin Hartley agrada como o objetificado bombeiro-stripper Ty Swindel, porém ao mesmo tempo em que numa forma de revanche substitui a exploração do corpo feminino pelo masculino – com direito a close no volume da sunga do galã –, Perfeita é a Mãe 2 faz uso de ultrapassadas piadas com body shaming, indicando que os cineastas ainda têm muito a aprender sobre alguns pontos que tentam reverter.
A iluminação que acompanha Amy é superexposta como no longa anterior, mas agora ao menos há o contrabalanço via luz fria trazida como marca pela sofisticada Ruth. A câmera é levemente instável, imitando o estilo de sitcoms, e a icônica sequência de subversão no supermercado é reencenada, desta vez num shopping center lotado. No quesito participação especial sai Martha Stewart e entra divertidamente Kenny G, apresentado como o “atual poderoso chefão do jazz”. Os pais são tão apagados quanto os pequenos e coisas ficam mal explicadas, como a mudança de figurino de Ruth após ser escorraçada e as informações que as vovós de repente revelam umas sobre as outras. Cópias dubladas têm referências bem brasileiras como um trechinho da canção "É o Amor" e o bordão de dez anos atrás “chupa essa manga”. Creio que por pouco não entrou um “se seu hobby é expulsar, tá de parabéns”.
Se faltam motivos realmente novos para achar graça em Perfeita é a Mãe 2, sobram química entre as protagonistas e repetições do que deu certo. O time que ganhou não foi mexido e ainda ganhou reforços especiais na exposição da universal insegurança de ser mãe. Feita na medida para quem gostou de Perfeita é a Mãe, esta divertida continuação serve tanto para o Natal, quanto para o Dia das Mães e ainda consegue deixar o primeiro filme para trás na capacidade de sensibilizar.