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    Finalmente Livres
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Finalmente Livres

    Dois lados da mesma moeda

    por Laysa Zanetti

    Finalmente Livres é um filme sobre reflexões. Trata-se de uma comédia que divide as atenções de forma quase homogênea entre os dois personagens principais, Yvonne (Adèle Haenel) e Antoine (Pio Marmai), em uma reflexão que busca responder uma única e não tão simples pergunta: é melhor ser um cretino ou uma vítima?

    A resposta não chega a ser clara, mas durante suas 1h48min, o novo filme do diretor Pierre Salvadori investiga as duas possíveis e mais antagônicas soluções para esta questão. Do lado da “cretinice”, há uma violência que mascara a dor e a depressão catapultadas por um sistema cruel e quase sem escrúpulos. Do lado da vítima, há este mesmo inconformismo, mas dessa vez mascarado de uma outra coisa, talvez um cansaço e um sentimento de desistência.

    Correm paralelamente, portanto, duas histórias. A primeira é a de Yvonne, a inspetora da polícia cuidando sozinha do filho, após o falecimento do marido, que ela descobre posteriormente ser corrupto. A segunda é a história do jovem Antoine, preso injustamente em virtude dos crimes do marido de Yvonne. Tomada de um sentimento de culpa após ele ser liberto, ela começa a acompanhar a rotina do rapaz e descobre que ele se transformou em outra pessoa após a experiência na prisão.

    A investigação de Yvonne faz com que ela se interesse e se identifique cada vez mais com os problemas de Antoine, espelhando nele as suas próprias inseguranças e aflições. O roteiro de Salvadori, Benoît GraffinBenjamin Charbit traz isso para a trama de uma forma que traz bastante dinamismo para a história em um primeiro momento, embora acabe gerando um sério problema de ritmo entre o segundo e o terceiro atos. A ideia é contar várias versões da mesma história, deixando claro o espelhamento que um vê no outro e o desejo de Yvonne de se libertar de uma estrutura que ela sempre deu como certa e irredutível, antes de começar a se perguntar se está realmente levando a vida que quer.

    O resultado dessas repetições é a princípio bastante criativo, mas quando o filme insiste em permanecer nisso em detrimento das necessárias evoluções que os personagens deveriam fazer, acaba sacrificando uma parte importante da história, e junto a isso uma decisão importante sobre o que este filme quer ser — estamos diante de uma reafirmação, de uma crítica ou das duas coisas? Justamente por isso, acaba desperdiçando a chance de se aprofundar mais nessas ideias, no peso da culpa e nas consequências — práticas e psicológicas — deste conceito de libertação. Neste sentido, poderia ter enriquecido o conteúdo, mas acaba sendo um bom divertimento, e só. 

     

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