A estrela brilha, mas nem tanto
por Rodrigo TorresOs sucessos de Meus 15 Anos e Fala Sério, Mãe!, estrelados por Larissa Manoela, e de Detetives do Prédio Azul (D.P.A.), em um 2017 difícil para o cinema nacional, indicaram uma tendência em nosso circuito: a alta dos filmes voltados para o público infantil. Ou, melhor dizendo, apontaram que esse é um nicho a ser preenchido — o que não ocorre desde que Renato Aragão e Xuxa deixaram de ser referência. Com isso, é seguro apostar que, assim como Carrossel, Gaby Estrella acertará em cheio o seu público alvo. Pela popularidade da personagem e sua adaptação calculada, por mais que falte inspiração.
Gaby Estrella remonta à primeira temporada da telenovela do Gloob, com a personagem-título sendo enviada pela mãe Patrícia (Adriana Prado) para a casa da avó Laura (Regina Sampaio) em Vale Mirim, interior do Rio de Janeiro. E esse é um primeiro exemplo da segurança (e cautela) do diretor Cláudio Boeckel e da roteirista Carina Schulze. Eles investem exatamente naquilo que as pessoas que irão aos cinemas esperam: dos já iniciados na atração televisiva, uma história familiar; a quem for atraído pelo cartaz, também, haja vista o fato de se tratar de um filme típico em que um elenco muito jovem que canta, dança e vive aventuras, dramas e romances que emanam inocência em todos os sentidos — ou quase.
Isso pois um aspecto que tira a força de Gaby Estrella é a sua inconsistência. Certas vezes, incoerência mesmo. Em um instante, a protagonista tem um momento de instrospecção e reflexão sobre seus atos, com o filme preocupado em transmitir uma moral exemplar. No outro, ela briga com a prima de modo um tanto destemperado em um evento público em homenagem à sua avó. Pureza passa longe. Não faz muito sentido. Da mesma forma, Maitê Padilha se mostra uma atriz promissora, com bastante presença e carisma, mas com uns cacoetes de atuação que destoam da atmosfera do filme e da interpretação do resto do elenco. Enquanto os outros se comportam como crianças, Gaby, não raro, exibe trejeitos e expressão de mulher adulta. Não combina. Nem mesmo com a atuação de um ator "mais velho" que se destaca na equipe: Victor Lamoglia, que funciona bem como Julio, alívio cômico de construção totalmente pueril.
Os realizadores de Gaby Estrella também não têm muita preocupação em elaborar melhor sua trama, como uma só, mais sólida. Sua proposta é apresentar o máximo de subtramas possíveis: brigas, sequestro, vilã que não se explora, vilã que vira aliada do nada. O reality que surge como algo importante é dispensado sem boa razão, a cena do helicóptero não têm sentido ou contagia como sequência de ação. Algumas despedidas são efêmeras, outras são eternas, e ambas têm o mesmo tratamento frágil, sem potência dramática devido ao seu mísero desenvolvimento — que é do roteiro como um todo. Tão logo surge um problema, ele é resolvido. Para então surgir outro, e mais outro. Sempre bobos, o que torna a obra enfadonha para os adultos. As crianças que acompanham, por outro lado, nem deverão se importar com esses aspectos e se cativar. Assim sendo, o pouco ambicioso, mas correto Gaby Estrella terá nos cinemas o sucesso de sua passagem pela TV.