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    Comeback
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Comeback

    Faroeste crepuscular

    por Francisco Russo

    A sequência de abertura de Comeback é emblemática: em um bar qualquer, a câmera capta de longe um homem largado em uma mesa ao fundo, como se tivesse sido esquecido ali, ao som da triste canção "O Fim",de Altemar Dutra. Aparentemente, ele está dormindo - hibernando? - até ser desperto por um jovem que o procura, conhecedor de sua fama. Afinal de contas, o senhor que ali está foi um notório matador que, em seu auge, foi responsável por uma conhecida chacina local, ocorrida no subúrbio de Goiânia.

    Os elementos deste faroeste crepuscular dirigido e roteirizado pelo estreante Erico Rassi estão logo definidos: uma ambientação nostálgica, cheia de objetos de uma era que se foi. Não à toa, surgem televisões de tubo, máquinas caça-níqueis, citações a jukebox, carros antigos e uma sensação constante de que tudo em cena passou do tempo. O próprio subúrbio que serve de locação não está localizado numa grande capital nem na área mais movimentada da cidade, o que aumenta o isolamento de tal ambiente. Um local perdido no tempo, onde tudo caminha vagarosamente de forma que os sobreviventes tentem se adequar à nova realidade. Assim também é Amador, o tal matador citado, interpretado com competência por um Nelson Xavier que, assim como fez no belo A Despedida, compõe um personagem mais envelhecido e também vaidoso.

    Diante de tal cenário, é natural que a própria narrativa de Comeback seja mais lenta, no ritmo de seus personagens principais. O brilho do passado emerge a partir do álbum de recortes do personagem principal, repleto de reportagens publicadas sobre seus feitos e mortes - nenhuma com seu nome, é bom ressaltar - e da fama que ainda sustenta junto a algumas pessoas. Entretanto, as dúvidas são constantes. E é a partir delas que o roteiro se desenvolve, em busca do destino anunciado pelo próprio título.

    É justamente em relação ao tal comeback que o longa-metragem demonstra suas fragilidades. A começar pelo uso do estrangeirismo, termo que destoa bastante daquele universo antigo e empoeirado. Se é inegável a influência do inglês na língua portuguesa, com a adoção de termos estrangeiros nos dias atuais, o mesmo não pode ser dito à época em que Amador e seus companheiros eram os maiorais. Tal uso soa anacrônico, algo imposto ao tom naturalista apresentado nos diálogos. O mesmo vale para o retorno em si, que nasce mais a partir dos comentários de outros do que propriamente de um desejo de Amador, por mais que as provocações neste sentido sejam bem claras.

    Diante disto, Comeback soa um tanto quanto artificial no desenvolvimento de sua narrativa, por mais que conte com uma ambientação muito bem conceitualizada e um bom desempenho de seu protagonista. Ainda assim, trata-se de um filme interessante pela proposta de construir um faroeste à brasileira envolvendo personagens mais idosos, algo bem raro no cinema mundial.

    Filme visto durante a cobertura do Festival do Rio, em outubro de 2016.

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