“Obrigado por ser você, Simon” – foi a primeira coisa que pensei depois de ver “Com Amor,Simon”, o novo filme de comedia romântica adolescente do 20th Century Fox. O longa é baseado no livro Simon vs. The Homo Sapiens, de Becky Albertalli.
Com Amor, Simon conta a história de Simon Spier, um jovem estudante do ensino médio que tem "uma vida totalmente normal", segundo ele. Simon tem ótimos amigos e uma família amorosa e guarda um segredo enorme: ele é gay. Ninguém, incluindo seus amigos e familiares, sabe disso. Apesar de tudo parecer ao seu favor, Simon não se sente à vontade para contar sobre sua orientação sexual.
De modo conveniente, o único conflito real é o segredo de Simon e o fato de ele descobrir em um post anônimo, por uma colega de estudo no blog de fofocas da escola, que um garoto se revela ser gay e conta suas angústias por não saber lidar com isso. Embora o autor não assine seu verdadeiro nome e utilize apenas a alcunha de “Blue”, Simon se identifica. Encorajado pela franqueza de seu mistério, decide entrar em contato com o autor do post – sob a segurança de um pseudônimo. A partir disso os dois começam a trocar mensagens através de e-mails e compartilham suas angústias, apoiando-se um ao outro.
Naturalmente, depois de vários e-mails enviados Simon acaba se apaixonando e está morrendo de vontade de saber quem é o outro estudante. Uma sacada esperta do filme para atrair o público com o mistério de quem é o garoto dos e-mails foi fazer com que as letras de Blue fossem lidas por diferentes vozes em todo o filme, mostrando que Simon tinha muitas suspeitas. O doce relacionamento dos dois fica por um fio quando Simon cometeu um erro estúpido e deixou sua conta do Gmail aberta em um computador de biblioteca. É aí que alguém descobre os e-mails, sabe que um deles se trata de Simon e passa a chantageá-lo.
A pessoa que chantageia Simon não é necessariamente considerável uma pessoa ruim, mas faz algo desconsiderável, explorando a situação para que Simon possa ajudá-lo a ter um encontro com Abby, uma das suas amigas. Embora possamos entender claramente a atitude de Simon de aceitar o plano pelo seu descuido, as decisões que ele faz são puramente egoístas e causam grande turbulência entre seu círculo social de amizade, não apenas com Abby, mas também com seu melhor amigo, Nick, que tem uma queda por Abby desde que ela se transferiu para a escola, e sua amiga de infância Leah, que dificilmente esconde seus sentimentos por Simon – o que torna cada vez mais difícil simpatizar com o que ele está disposto a sacrificar para manter seu segredo.
É preciso muita coragem para se assumir no ensino médio. É um período marcado pela pressão e bullying para a maioria dos adolescentes. Não se pode culpar a maioria dos adolescentes – gays ou heterossexuais – por quererem manter a cabeça baixa. O tema, inclusive, já foi abordado anteriormente em outras histórias. Como exemplo, na série televisiva "Glee", que abordou muitas questões dessa esfera relativamente da fase escolar.
A partir desse subplot do filme podemos ver o desenvolvimento dos personagens. Nenhum deles fica no superficial, mas chegam ao famoso clichê. Porém, todos ali têm uma função importante na história de Simon. O protagonista mostra a real humanidade ao se fechar em seus problemas, manipulando seus amigos e traindo a confiança deles.
O mais interessante do filme é a leveza como ele trata todo seu desenvolvimento. Nada fica pesado demais, mas também não é banalizado. Com o filme lidando com este desafio tendo atenção e cuidado, ele também oferece um discurso poderoso sobre a pressão da sociedade. Ele questiona o porquê de somente as pessoas gays precisarem se assumir. Além disso, interroga porque o padrão é considerado padrão. Em suma, o filme consegue equilibrar ao tratar de um tema complicado e pertinente.
No entanto, chamar este filme de uma romance gay adolescente parece fazer Com Amor, Simon um desserviço, porque é muito mais do que isso. SIM, estamos assistindo Simon lidar com sair do armário, mas o filme também aborda algo além dele. Ele reflete para o setor cinematográfico em geral. Por que é que, quando um filme exibe um personagem protagonista gay, é um filme gay? Por que a pressão para sucesso é muito maior para os filmes que possuem uma representatividade minoritária? E, talvez, esse seja o verdadeiro triunfo de Com Amor, Simon. É a forma como o filme equilibra todos esses elementos: é um olhar angustiante e empatia em expansão para o que significa ser um adolescente gay. É uma história universal sobre o estranho e as bagunçadas tentativas de navegar no ensino médio. É uma comédia hilária em seu próprio mérito. Certamente o objetivo do filme é atingir todo o público sem levantar nenhuma bandeira e, sim, mostrar a naturalidade e as dificuldades de estar na pele de Simon. O diferencial deste filme é que ele pode – e deve – ser assistido por qualquer pessoa, seja gay ou hétero, mãe, pai ou amigo. Não importa a raça ou classe social, a essência da história será muito parecida.