Esse é um daqueles filmes que eu gosto de assistir porque além da questão da representatividade me faz refletir e olhar para dentro de mim mesmo, me ajuda a me conhecer melhor, recordar o que um dia eu já fui, no que eu sou e naquilo em que poderei me tornar, é engraçado no quanto tudo o que acontece no filme é só mais uma história para muitas pessoas mas para outras assim como eu, é algo a mais, é um espelho onde cada detalhe é um reflexo que fez ou continua a fazer parte de nossas vidas, então é muito fácil seu coração agitar várias vezes quando você se identifica com muito do que está acontecendo na tela.
O filme é um drama e um romance sutil, gostoso de assistir e que apesar de mostrar a dificuldade de um estudante gay se assumir para os amigos ou a família, mostra que o ponto principal não é se assumir gay mas sim se mostrar para o mundo como você é pois sempre ocorre o medo da rejeição, a verdade é que todos nos expressamos esperando que sejamos de alguma forma bem correspondidos, e isso para muitas pessoas é muito mais difícil do que para outras, é aterrorizante a ideia de você gritar para o mundo o que você é e ser recusado (e gritar é uma metáfora, já que no final não importa a forma como nos comportemos, todos de alguma forma se revelam para o mundo da sua própria maneira como algo natural).
Algumas questões interessantes são levantadas pelo protagonista, como a própria questão de se assumir gay ser algo injusto já que nenhum hétero precisou alguma vez na vida se assumir hétero desde que para a maioria das pessoas existe apenas um único padrão. Também tem aqueles vários detalhes que só quem passa por isso sabe o quão desagradável é, o quão paciente e tolerante temos que ser (ou não) com conhecidos ou parentes quando presenciamos conversas de cunho homofóbico ou mesmo aquelas piadas desnecessárias e sem graça que servem principalmente para traçar a linha entre amizade real ou apenas um conhecido seu, e infelizmente em alguns casos, um parente, o filme consegue pegar e te lembrar exatamente DAQUELE momento, aonde você está socializando com pessoas e até se divertindo e de repente soltam aquela ofensa a outra pessoa chamando ela de "viado", "bichinha", "boiola" ou qualquer coisa parecida e você não consegue simplesmente ficar de boa com aquilo ou evitar o semblante de decepção e incômodo que se forma em seu rosto, e quando você passa por esse tipo de situação sem ser "assumido" aquilo te faz ter ainda mais medo do que o mundo tem a te oferecer e você acaba se afundando mais em depressão, a mesma situação pode envolver parente ou um amigo próximo onde a decepção vem acompanhada de desolação e tristeza em dobro, é esse o tipo de detalhe que o filme e o protagonista conseguem transmitir de forma perfeita, provavelmente esse é o filme em que mais me senti bem representado de tantas maneiras e por tanto tempo. Infelizmente não posso falar mais sobre a trama em si porque para fazer isso eu teria que dar spoiler.
A trilha sonora que veste o filme foi bem escolhida e é linda, as músicas conseguem transmitir bem a vibe do momento com muita precisão, as músicas variam entre modernas e atuais e outras mais antigas, todas estão bem inseridas e retratam bem a vida de um adolescente em crise. A ambientação não deixa nada a desejar mostrando uma atmosfera comum a um estudante, com locais e situações típicas de um adolescente como qualquer outro (ou pelo menos a maioria).
Eu poderia dizer que recomendo o filme para quem é gay, LGBT ou apenas simpatizante, mas dado a capacidade de transmitir os sentimentos de forma tão clara e autêntica sem parecer algo superficial eu recomendo esse filme para todos com exceção daqueles que possuem uma mentalidade definidamente fechada, se você possui algum amigo ou parente gay e quer entender ao menos um pouquinho o tipo de situação pelo qual ele passa ou pelo que ele teve que passar não pense duas vezes, vá fundo, eu dou a minha palavra que os sentimentos passados são reais, o filme possui um bom toque romântico também, então para quem é fã de romance, é uma boa pedida.
O filme é realmente lindo e com certeza entrou para o meu top 3 de filmes com temática LGBT, e o que eu mais gosto nele é que ele comprova mais uma vez que na verdade, somos obrigados a aceitar muito mais das pessoas do que elas pensam que são obrigadas a aceitar de nós.
-Você já se sentiu estranho?
-Estranho?
-Algumas vezes eu sinto como se eu estivesse sempre do lado de fora, existe essa linha invisível que eu preciso atravessar para que eu possa realmente fazer parte de algo e eu simplesmente não consigo atravessar.
-Eu também