Baseado no livro de Nicolas Spar… ops… Nicola Yoon, chega aos cinemas mais um drama/romance girando em torno de alguma doença/deficiência que prejudica o relacionamento de algum casal apaixonado – assim como em sucessos destes genêros como A Culpa é das Estrelas ou Como Eu Era Antes de Você. Mas, devido a uma quase impressionante falta de vontade de inovar, temos um exemplar que não chega nem a ser apenas “ok” como as obras citadas. Tudo e Todas as Coisas, lamentavelmente, é um filme sem muito potencial para emocionar ou fazer o espectador refletir.
Sejamos honestos: em histórias onde alguém está doente ou muito debilitado de alguma forma só existem dois caminhos – o primeiro seria o triste final onde alguém do casal apaixonado morre e, o segundo, uma “vitória” sobre o problema que impede o “felizes para sempre” para a dupla de protagonistas. O que geralmente faz filmes assim funcionar é justamente seu fundo temático, fazendo reflexões sobre momentos que podem ser facilmente identificados pelo espectador – como Laços de Ternura, Lado a Lado ou Os Intocáveis, entre vários exemplos de qualidade que o cinema nos mostrou durante anos. Infelizmente, Tudo e Todas as Coisas é tão raso quanto uma piscina de plástico de fundo de quintal.
A história acompanha a vida da adolescente Maddy (Stenberg), que, desde pequena, sofre de uma doença rara que a torna extremamente vulnerável a qualquer bactéria ou vírus – o que a impossibilita de viver fora de sua casa, que é devidamente adaptada para que nada do “mundo lá fora” entre – possui até uma “câmara de esterilização”, dignas de comportas do tipo que vemos em submarinos ou naves espaciais (!) – residência na qual somente a empregada e enfermeira Carla (Reguera) pode ter acesso, além de Maddy e sua mãe, Pauline (Rose), que tem um cuidado extremo para manter a filha longe de contaminações, que poderiam mata-la. Apenas com a internet como vinculo com o resto do mundo, a vida de Maddy começa a mudar quando um novo vizinho surge – o também adolescente Olly (Robinson), que começa conversar por mensagens com Maddy – e, aos poucos, vão se apaixonando e deixando mais evidente a vontade da garota em sair deste mundo limitado em que vive.
Parte do problema do longa vem do roteiro pouco inspirado em preencher as personalidades de seus personagens (TODOS eles) com características verossímeis – portanto, não se surpreenda com a artificialidade da mãe de Maddy, que, interpretada pela perdida Anika Noni Rose, dificilmente deixará de soar como alguém irritante e que submete a filha a inúmeras privações – mesmo que isso garanta a suposta sobrevivência da jovem – e, acredite, a conclusão da trama deixará tudo ainda pior – e vou parar por aqui, porque a previsibilidade da história (e de sua “reviravolta”) é gritante. Esse erro na dosagem da personalidade (e caráter) da personagem de Anika fica evidente quando tem uma discussão com Carla – em atuação curta (mas eficiente) da hispânica Ana de la Reguera – tornando a mãe de Maddy em uma “megera”, e, praticamente, o insosso posto de uma espécie de “vilã” – algo do tipo com o que as famílias de Romeu & Julieta faziam para desunir os dois – aliás, através dos livros que Maddy lê, o filme tenta traçar alguns ingênuos paralelos em sua história – como no caso da citação ao livro O Pequeno Príncipe.
Sendo assim fica até difícil avaliar as atuações da dupla central. Amandla Stenberg (sim, a garotinha que participava do primeiro Jogos Vorazes), não tem muito o que fazer com o que lhe foi dado, alternando entre alguma simpatia (que ajuda) quando precisa demonstrar alegria por sua relação com Olly ou para o (pouco) uso do humor no filme – mas a garota decepciona quando precisa lidar com maior dramaticidade, caindo para a inexpressividade – difícil engolir diálogos como “Me apaixonei por você desde a primeira vez que te vi” em um filme que leva a sério tal fala – e Nick Robinson faz de seu Olly um rapaz tão sem personalidade que é difícil levar a sério qualquer expressão ou diálogo recitado por ele, ainda que sua relação conflituosa com seu pai não altere em nada o andamento da história – mostrando que a estreante diretora Stella Meghie não tem muita garra para traçar corretamente a postura de seus atores – de inicio, Maddy e Olly parecem tímidos um com o outro, mas depois que começam a interagir mais, continuam tímidos – mostrando que não há espontaneidade nas atuações e no desenvolvimento do roteiro – o que é uma pena, já que em um dos poucos acertos da história é inserir um relacionamento entre uma negra e um branco como algo natural, sem precisar expor alguma critica ao racismo – ponto positivo pelo tratamento digno, mostrando que isto é algo normal e isento de preconceitos – como deveria ser nesse mundo de gente racista e preconceituosa.
Mas visualmente Tudo e Todas as Coisas também decepciona, já que a diretora não está interessada em adotar uma fotografia que acompanhe os sentimentos dos personagens – recurso primordial em qualquer romance. O tom colorido está lá desde o começo (com uma animação “mastigada”, que explica a doença da protagonista) até o final – sem alterações – e algumas representações do estado de saúde de Maddy, em um campo florido imaginário, são um tanto mal inseridas, mas, ainda assim, é interessante a maneira como é representada as conversas por mensagens de texto entre Maddy e Olly – imaginando os dois conversando dentro de uma das maquetes que a garota constrói em seu quarto – algo mais dinâmico do que os textos sobre a tela que vimos em A Culpa é das Estrelas – mas a diretora erra a mão ao querer usar o recurso de colocar legendas para traduzir o real sentimento do casal quando se veem pela primeira vez pessoalmente – envergonhados, eles conversam acanhadamente enquanto as legendas mostram o que realmente pensam ou estão sentindo – sim, é uma referência (ou melhor, imitação) desnecessária ao que Woody Allen fez no clássico Annie Hall. Ainda temos a trilha-sonora pouco inspirada, que se preocupa apenas em evidenciar hits pops do momento – tentando, obviamente, atrair mais o seu público alvo, os adolescentes.
Enfim, é um filme que deveria ser apenas leve e descompromissado, mas sua equivocada e forçada vontade de querer surpreender ao final deixa ainda mais superficial e pouco emocionante o que já não estava bom desde o começo. O que pode despertar lágrimas ao termino mesmo é a constatação de termos perdido cerca de uma e meia com um filme cheio de personagens mal desenvolvidos e com atores perdidos em cena. Isso sim é triste.