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    Angry Birds 2 - O Filme
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Angry Birds 2 - O Filme

    Reflexos de uma era

    por Francisco Russo

    Criado em 2005, o YouTube se destacou não só ao facilitar o acesso a vídeos de todo tipo mas, também, ao estabelecer uma nova linguagem, não só estética mas também narrativa. Por mais que ainda seja invisível para muitos, foi através da plataforma que uma imensa legião de apresentadores se estabeleceu, conquistando a atenção e o carinho/ódio de uma geração que se acostumou com tais vídeos de curta duração onde o mais importante é prender a atenção a todo instante. Diante desta conjuntura, não é exagero dizer que Angry Birds 2 seja filho (in)direto da própria existência do YouTube.

    Senão, vejamos: por mais que a origem dos pássaros raivosos seja através de um aplicativo de celular, tal estética ágil e rápida foi popularizada justamente através de inúmeros vídeos do YouTube, criando uma espécie de preâmbulo para tal narrativa. O que se vê agora no cinema é na verdade a recriação da mesma proposta, só que no formato de longa-metragem. Com isso, o roteiro deste segundo filme se esforça (bastante) em entregar ao espectador o maior número de piadas e estímulos possíveis em um tempo curtíssimo, estabelecendo uma narrativa fragmentada onde mais importante que a história é a próxima gag ou citação a ser feita. Simples assim.

    Sem a obrigação de apresentar e estabelecer os personagens principais, tarefa incumbida ao primeiro filme, Angry Birds 2 se vê livre para ir ainda mais fundo em sua proposta frenética onde vale de tudo: há citações a marcas famosas, brincadeiras musicais, trocadilhos de todo tipo, torta na cara, Baby Shark, fator fofura, dancinhas, roupas extravagantes, momentos de ação imersiva, tombos, tombos e mais tombos. Escancaradamente voltado ao público infantil, não por acaso aquele que cresceu justamente sob a estética YouTube, o objetivo é entretê-lo a todo custo sem dar qualquer tempo de respiro ou reflexão - o que, em vários momentos, soa um tanto quanto cansativo.

    Diante de tanto histrionismo, merece atenção a tática usada pelo roteiro em relação aos filhotes de passarinhos. Fofíssimos por natureza, eles surgem no filme em esquetes quase à parte do restante do filme, em um formato bastante parecido ao usado na franquia A Era do Gelo em relação ao esquilo pré-histórico Scrat - e funcionam bem, cumprindo seu propósito muito melhor que todos os porcos vistos em cena, de uma inutilidade narrativa impressionante. Sua presença é muito mais decorrente da rivalidade herdada do filme original, sem que haja real necessidade neste combate contra a dona da nova ilha que surge no mapa.

    Histérico a todo instante, Angry Birds 2 é um filme meticulosamente planejado para atrair seu público-alvo - e, possivelmente, apenas ele. À velocidade das inúmeras gags soma-se uma historieta que lida com a necessidade de exaltação por seu próprio povo, no caso de Red, associada à postura bem questionável que assume em relação às duas personagens femininas da trama, ambas novatas na franquia, no sentido de depender de atos masculinos para se afirmar. Ainda assim, é um filme que merece crédito como reflexo de a quantas anda o mundo contemporâneo, ao menos em relação à linguagem narrativa.

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