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    A Destruição de Bernardet
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    A Destruição de Bernardet

    "Vim para complicar"

    por Francisco Russo

    Jean-Claude Bernardet, filósofo, crítico de cinema, roteirista e ator. Nascido na Bélgica e com carreira construída no Brasil, ele é por muitos considerado um dos pensadores vivos mais importantes sobre o cinema nacional. Por mais que tenha trabalhado esporadicamente no cinema, como roteirista e até como diretor de documentários, foi na última década que Bernardet resolveu explorar com maior frequência uma outra faceta: a de ator. Sempre com jovens diretores, em projetos experimentais onde, em muitos casos, o maior atrativo da produção é sua presença.

    A abertura do documentário A Destruição de Bernardet é na verdade uma bem-humorada apresentação deste momento de vida, pontuada por críticas à exposição desnecessária e acusações de que estaria "sendo explorado" por outros - trata-se de sua "destruição", por tudo o que representa. O tom crítico é mantido quando um de seus alunos na faculdade diz que colocá-lo em um filme como ator seria "uma vingança dos próprios alunos".

    Fato é que Bernardet não é um grande ator, e ele sabe muito bem disto. Colocá-lo assistindo suas próprias cenas, com o inevitável sotaque carregado e buscando um certo histrionismo, soa muito mais como provocação às tais críticas do que uma constatação se elas são corretas ou não. Mas na verdade, não importa. A função deste documentário não é rebater tais acusações, mas apresentar um pouco de quem é e o que pensa seu personagem central - e, neste ponto, ele funciona a contento.

    Mesclando a persona pública com a privada, Bernardet surge de peito aberto. Fala sobre viver sabendo que vai morrer em breve, devido ao fato de ser portador do vírus HIV, da melhor forma sobre cometer suicídio, sobre o que deseja fazer dos anos que lhe resta e muito mais. O lado confessional é o que o longa entrega de melhor, não apenas pelo que é dito mas pela exposição do seu jeito de ser, tão importante quanto suas palavras nesta tentativa de compreendê-lo.

    Por outro lado, A Destruição de Bernardet está longe de ser um documentário convencional, em que seu homenageado simplesmente responde perguntas ao ser provocado. Com uma linguagem experimental, como o homenageado tanto gosta, os diretores Pedro Marques e Claudia Priscilla buscam revelar suas ideias através das falas e da observação, às vezes de forma sensorial. Ou, como o próprio protagonista diz, "vim para complicar".

    Tal proposta funciona, sob certos aspectos. Se o início demonstra frescor ao contrapôr Bernardet com as cenas em que atua, seguido pelo impacto das declarações do próprio, aos poucos a narrativa demonstra um certo cansaço pela ausência de novas possibilidades - e isto, em um longa de apenas 72 minutos, é algo grave. Ainda assim, trata-se de um filme interessante pela sua ousadia e, especialmente, por poder ouvir o próprio Bernardet falando sobre si mesmo, sem papas na língua.

    Filme visto no 49º Festival de Brasília, em setembro de 2016.

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