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    Meus Dias de Compaixão
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Meus Dias de Compaixão

    Qual é o lado certo?

    por Barbara Demerov

    A pena de morte nos Estados Unidos é um assunto que se torna cada vez mais divisório. Dos 50 estados, 33 adotam o método em crimes mais graves, e mesmo que isso aconteça há mais de 200 anos no país, tal prática continua polêmica, gerando protestos em defesa da vida - não importa qual o ato de violência. A divisão entre ser a favor ou contra a injeção letal dada aos presos estimula boa parte da história de Meus Dias de Compaixão. O restante é composto por um romance que, por mais inusitado que seja, é sensível o suficiente para provocar reflexões das mais diversas. É possível se relacionar com alguém que possua ideais completamente diferentes dos seus? Até onde deixar isto te afetar? Até quando permitir tal aproximação?

    Desde sua primeira cena, Lucy (Ellen Page) já mostra em pequenos detalhes, como na estampa da blusa, a sua posição perante ao assunto. Assim como seus irmãos, ela é contra a pena de morte pois seu pai se encontra no corredor da morte por supostamente ter assassinado sua mãe. As informações são entregues aos poucos e são abertas a partir da presença da família em um protesto contra a morte de um detento. No mesmo protesto, do outro lado há uma outra realidade que Lucy nem se arrisca a olhar: a opção daqueles que defendem a pena de morte pois perderam alguém para a violência. Mercy (Kate Mara) está no meio dos defensores da pena de morte, e não dos protestantes.

    A frase "os opostos se atraem" é extremamente real em Meus Dias de Compaixão. Se por um lado as duas jovens saibam que nem deveriam dirigir a palavra uma à outra, por outro já têm a ideia de ouvir a opinião alheia para ao menos tentar entender quais são suas respectivas motivações. Entre Lucy e Mercy existe o diálogo, e é curioso de ver tal relação florescer tão naturalmente mesmo em meio às divergências que, convenhamos, não são nada pequenas.

    Porém, o mais interessante do filme não é necessariamente o romance entre Lucy e Mercy. É dentro da vida familiar de Lucy que se encontra o verdadeiro ouro, pois a atuação de Amy Seimetz como Martha, a irmã mais velha da protagonista, esbanja intensidade e sempre traz frescor quando em tela - por mais que sua realidade não seja das mais otimistas. Ellen Page possui boa química tanto com Seimetz quanto com Mara, mas as melhores cenas do longa são originadas pela relação das duas irmãs e no desespero que abriga a dúvida que tentam fugir: O pai é realmente inocente ou elas que estão perdendo algo?

    Kate Mara, por sua vez, não consegue se destacar mesmo interpretando uma personagem que tem peso na narrativa. Não que seu talento seja reduzido quando divide a cena com Ellen Page: as duas conseguem tirar o melhor entre si e são bastante cativantes como casal. O problema é que o maior elemento do longa - a divergência de opinião quanto à pena de morte - acaba sendo diminuído perante a força que abriga na trama da família de Lucy. Isto pode tornar o filme mais completo para alguns (afinal, trata-se de um drama familiar e um drama ideológico), mas a segunda parte serve mais como a base de como todos os personagens envolvidos lidarão com a vida dali para frente. É como se os protestos representassem a confusão mental de cada um deles, sendo cada uma das viagens importante para organizar mais suas ideias e resistências.

    Unindo amor, morte, família e desapego, Meus Dias de Compaixão não atravessa a linha de apoiar ou não a pena de morte mas dramatiza muito bem o universo de quem sofre com tal medida, assim como a de quem acredita que ela pode ajudar a diminuir a dor das vítimas. Sem pesar no certo ou errado, o diretor faz um belo trabalho com esta aproximação e foca pura e simplesmente nas escolhas de cada personagem. Se sua resolução é um tanto quanto simplista, ao menos todo o desenvolvimento transmite bem as emoções de ambos os lados do muro.

    Filme visto no 26º Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade, em novembro de 2018.

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