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    O Rei dos Belgas
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    O Rei dos Belgas

    Farsa política

    por Bruno Carmelo

    Há anos a Bélgica atravessa um período de instabilidade política, com ameaças de separação entre Valônia e Flandres, o que deixaria Bruxelas, um departamento independente, na dura posição de escolher a qual campo se uniria. A crise no “coração da Europa” é o centro da comédia O Rei dos Belgas. Curiosamente, a trama não se passa em território belga, e sim na Turquia, Bulgária, Montenegro e Albânia, representando uma oportunidade para os diretores Peter BrosensJessica Woodworth observarem os efeitos do conflito nos territórios que o cercam.

    A premissa para a jornada é das mais absurdas: uma tempestade solar impede que o rei Nicolas III (Peter Van den Begin), junto de sua assessora de imprensa Louise (Lucie Debay), do chefe de operações Ludovic (Bruno Georis) e do assistente Carlos (Titus de Voogdt), retornem ao país no momento em que a Valônia declara independência. Convenientemente, toda a comunicação é interrompida no continente, inviabilizando ligações telefônicas ou o uso de GPS. É impensável que a Europa fique sem telefone por causa de uma tempestade solar, ou que uma revolução deste porte ocorra sem a ajuda da mídia, mas esta é a licença improvável adotada pela narrativa para deixar os protagonistas perdidos na volta para casa.

    Investe-se no tom de falso documentário, registrado pelo personagem de um cinegrafista inglês, o decadente Duncan Lloyd (Pieter van der Houwen). No meio do caminho entre o burlesco corrosivo de Borat e o olhar afetuoso e condescendente de O Presidente, O Rei dos Belgas usa a sua primeira metade para instaurar o conflito e aprofundar os estereótipos sobre cada região. O protagonista é visto como um homem pouco inteligente, os turcos são percebidos como desorganizados, o cineasta britânico torna-se o retrato da decadência. É a parte de menor sutileza, prejudicada pela narração em off de Duncan Lloyd, desnecessária e redundante, e pela escolha questionável de colocar um ator belga dublado por um inglês.

    A aventura melhora quando a comitiva decide voltar à Bélgica pelos Bálcãs, com a ajuda de ônibus, vans e até tratores. É a oportunidade de transformar a sátira num road movie. Assim, o contato com pessoas comuns mostra ao rei como é a rotina distante do luxo de que desfruta. O protagonista vai, literalmente, se despindo: ele começa tirando o paletó, a gravata, depois tira as roupas e se joga no mar… Em meio ao mundo regrado da vida política, Nicolas III encontra no campo e no anonimato uma oportunidade de ser livre. Pode ser uma visão um pouco ingênua do poder, transformando os líderes políticos em vítimas do sistema, enquanto a pobreza garantiria felicidade. Ao menos o filme enxerga possibilidades de união entre pessoas de diferentes classes sociais, e diferentes países.

    As atuações ajudam muito nesse processo. Contidos, os quatro atores da comitiva belga atenuam a inverossimilhança da trama, trazendo drama à paródia. O Rei dos Belgas está em constante busca de equilíbrio de tom: enquanto os diretores abusam dos recursos artificiais - inclusive na trilha sonora, com direito a “In the Hall of the Mountain King”, de Edvard Grierg, usado em nove entre dez farsas - os atores tentam transformar as imagens exageradas e a história improvável em uma história de relevo humano. O resultado funciona de modo intermitente, deixando um gosto agridoce no final.

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