A 13ª Emenda do título se refere à Emenda da Constituição Americana que aboliu a escravidão nos Estados Unidos. É o equivalente à nossa Lei Áurea, só que entrou em vigor aproximadamente uns 25 anos antes. Mas, segundo a diretora Ava DuVernay, o fim da escravidão dos negros nos Estados Unidos foi ao longo do tempo sendo substituído por outras formas de segregação, até culminar com a política do encarceramento em massa. O filme constrói muito bem uma tese, e se baseia em fatos, números e estatísticas assustadoras para provar seu ponto de vista. O tema e as argumentações são polêmicos, como convém a um bom documentário com temática político-social que se preze.
O documentário tem bastante agilidade, e além de usar o recurso tradicional de alternar imagens de arquivo com depoimentos, também recorre às letras de raps que denunciam a condição da comunidade negra marginalizada. Um trecho do documentário já viralizou na internet: imagens de cidadãos da comunidade afro-descendente americana sendo agredidos na rua gratuitamente, enquanto ouvimos a voz de um extremista proferir um discurso de ódio racista. Talvez o único defeito de A 13ª Emenda seja ficar um pouco repetitivo no uso de depoimentos de experts e membros famosos da comunidade de afro-descendentes, e haver esquecido de colher relatos dos presos, principalmente dos famosos inocentes que foram levados para trás das grades. Faltou também aprofundar um pouco a origem da criminalidade alta junto à comunidade de afro-descendentes dos Estados Unidos, que existe muito em decorrência da histórica ausência do Estado, o mesmo que ocorre no Brasil nas favelas e comunidades carentes.
A diretora DuVernay começou na televisão fazendo exatamente documentários, então é sua praia, o gênero que ela domina mais e no qual acumulou uma boa experiência. Há 2 anos atrás surpreendeu com a maturidade e domínio de direção em Selma, que era apenas seu terceiro longa-metragem de ficção para o cinema. O filme chegou a ser indicado ao Oscar como Melhor Filme, exatamente no ano em que houve muita reclamação quanto à uma edição “branca”, já que nenhum ator negro foi indicado. O próprio filme obteve somente 2 indicações, e DuVernay, cujo trabalho foi muito elogiado, ficou fora das indicações como Diretor.
Ao que tudo indica, a Academia vai novamente lembrar de DuVernay. O filme tem ganho muitos prêmios como Documentário de Longa-Metragem e aparecido em várias listas de melhores do ano de associação de críticos e jornalistas. Tradicionalmente, há sempre um número tão grande de inscritos para o Oscar, que os votantes fazem uma espécie de pré-seleção – que eles chamam de shortlist. Dos 145 inscritos, A 13ª Emenda ficou entre os 15 pré-selecionados, que irão compor a tradicional seleção de 5 melhores. Ano que vem, parece que temas relacionados à comunidade negra americana irão dominar as indicações à Melhor Documentário de Longa-Metragem, já que além de A 13ª Emenda, os documentários I Am Not Your Negro e O.J.: Made in America estão entre os favoritos a levar o prêmio.