As Trapaceiras (The Hustle), dirigido por Chris Addison, é um remake de gênero invertido do clássico Dirty Rotten Scoundrels (1988). O filme traz Anne Hathaway e Rebel Wilson como protagonistas, interpretando duas golpistas que competem entre si em uma série de embustes na Riviera Francesa. Embora o filme tenha recebido críticas majoritariamente negativas, com uma classificação de aprovação de apenas 13% no Rotten Tomatoes, há alguns aspectos que merecem reconhecimento.
O enredo de As Trapaceiras gira em torno de Penny Rust (Rebel Wilson), uma vigarista de pequena escala que engana homens ricos com histórias emocionais, e Josephine Chesterfield (Anne Hathaway), uma golpista sofisticada que mira os milionários mais abastados. As duas se encontram na Riviera Francesa e, após uma série de desentendimentos, decidem apostar quem consegue enganar um bilionário tecnológico, Thomas Westerburg (Alex Sharp).
Embora o enredo seja previsível e siga uma estrutura já conhecida, ele tem momentos divertidos e mantém um ritmo leve, ideal para uma comédia casual. A ideia de inverter os papéis de gênero em relação ao filme original é interessante, mesmo que não seja explorada em toda a sua potencialidade. A trama oferece reviravoltas que, embora não sejam surpreendentes, conseguem entreter o público.
Anne Hathaway e Rebel Wilson são o coração do filme, e suas performances trazem energia e carisma à tela. Hathaway, conhecida por sua versatilidade, adota um sotaque britânico exagerado e uma postura caricata que, embora possa parecer forçada em alguns momentos, adiciona um toque de humor absurdo à sua personagem. Sua interpretação de Josephine como uma mulher sofisticada e calculista é divertida e cheia de estilo.
Rebel Wilson, por sua vez, traz seu humor característico ao papel de Penny, uma vigarista desajeitada, mas astuta. Sua comédia física e timing cômico são pontos altos do filme, especialmente em cenas como aquela em que ela finge ser cega para enganar Thomas. A química entre as duas atrizes, embora irregular, tem momentos brilhantes, especialmente quando estão competindo ou colaborando em seus golpes.
O roteiro, escrito por Jac Schaeffer e Stanley Shapiro, é o ponto mais fraco do filme, mas ainda assim tem seus méritos. As piadas nem sempre funcionam, mas há alguns momentos genuinamente engraçados, especialmente aqueles que exploram o contraste entre as personalidades das protagonistas. A dinâmica entre a sofisticação de Josephine e a irreverência de Penny cria situações cômicas que funcionam bem.
Apesar de não ser inovador, o roteiro consegue manter o público engajado com uma narrativa simples e direta. A inversão de gênero, embora subutilizada, traz uma lufada de ar fresco ao gênero, mostrando mulheres inteligentes e capazes de liderar uma trama de comédia.
A cinematografia, assinada por Michael Coulter, é um dos pontos fortes do filme. As paisagens da Riviera Francesa são belamente capturadas, com cores vibrantes e composições que destacam o glamour do cenário. A direção de arte também merece elogios, com figurinos elegantes para Josephine e roupas mais despojadas para Penny, reforçando o contraste entre as personagens.
A trilha sonora, composta por Anne Dudley, é funcional e complementa bem as cenas. Embora não seja memorável, ela adiciona um toque de sofisticação ao filme, especialmente nas cenas que envolvem Josephine. A escolha de músicas populares em algumas cenas também adiciona um toque moderno e divertido.
O final do filme tenta surpreender o público com uma reviravolta envolvendo Thomas Westerburg, que revela ser um golpista ainda mais habilidoso do que Josephine e Penny. Embora a ideia seja interessante, a execução é previsível e falta impacto emocional. No entanto, a cena pós-créditos, que mostra as duas protagonistas em um de seus primeiros golpes, é divertida e deixa o público com um gosto mais doce.
As Trapaceiras não é um filme revolucionário, mas também não merece todo o desdém que recebeu da crítica. Ele é uma comédia leve e despretensiosa, que entrega exatamente o que promete: momentos de diversão e entretenimento. Anne Hathaway e Rebel Wilson carregam o filme com suas performances carismáticas, e a cinematografia e direção de arte adicionam um toque de glamour à trama.
Embora o roteiro seja fraco e as piadas nem sempre funcionem, o filme tem seus momentos brilhantes e consegue entreter o público. Para fãs de comédias leves e descontraídas, As Trapaceiras pode ser uma opção agradável, especialmente para quem busca um filme que não exija muita reflexão.
As Trapaceiras é um filme que, apesar de suas falhas, tem qualidades que merecem reconhecimento. A química entre Anne Hathaway e Rebel Wilson, a bela cinematografia e alguns momentos cômicos genuínos fazem do filme uma experiência divertida, ainda que não memorável. Embora não seja uma obra-prima do gênero, ele cumpre seu papel como uma comédia leve e despretensiosa, ideal para uma sessão de cinema descontraída. Para quem está disposto a deixar de lado as críticas e aproveitar o filme pelo que ele é, As Trapaceiras pode ser uma opção válida de entretenimento.