Balança quebrada
por Sarah LyraSe há uma expressão popular que pode resumir de forma sucinta e eficaz as pretensões de As Rainhas da Torcida, "nadar, nadar e morrer na praia" seria a mais apropriada. O filme dirigido por Zara Hayes se mostra surpreendentemente disposto a problematizar questões sociais envolvendo as condições de vida e direitos dos idosos, e não chega a errar grosseiramente em sua abordagem, mas tampouco acerta. É uma produção que peca apenas em enxergar e admitir suas próprias limitações, por mais bem intencionada que esteja.
Estrelado por Diane Keaton, que mais uma vez entrega sua costumeira competência, a comédia se propõe a acompanhar uma mulher, Martha, lidando com o fato de que em breve perderá sua vida para um agressivo câncer já em estágio avançado. Ao vê-la recusar tratamento, passamos a acompanhar o que inevitavelmente será uma jornada dolorosa em face da mortalidade, mas ao mesmo tempo cientes de que não há grandes ambições por trás do projeto, e que a intenção aqui é, primeiramente, divertir. Ainda assim, falar de existência humana exige um mínimo de complexidade narrativa, o que Hayes parece entender e explorar bem, no primeiro ato do longa.
Incentivada pela nova amiga, Sheryl (Jacki Weaver), Martha decide reunir um grupo de mulheres idosas para a prática das típicas coreografias e acrobacias executadas por líderes de torcidas, contrariando os desejos da administradora da comunidade em que todas elas moram. Nesse ponto, Hayes dá indícios de que há a intenção de adicionar mais camadas à proposta inicial de ser uma comédia despretensiosa ao inserir diversas cenas de superação física e emocional nos treinos das mulheres, além de constantemente ressaltar os laços afetivos formados durante a experiência. Por mais clichê que a abordagem possa parecer, a diretora trata o tema de forma respeitosa e, mesmo gerando humor a partir de algumas das limitações do grupo, a risada nunca parte de uma ridicularização das personagens.
As coisas se complicam para As Rainhas da Torcida quando o roteiro tenta abraçar o mundo com as mãos. Não contente em abordar mais profundamente uma das muitas possibilidades envolvendo o processo de envelhecimento, o longa se dispõe a pincelar várias outras. O problema é que, para fazer isso, abre mão de desenvolver apropriadamente o que já havia sido apresentado previamente. A partir daí, Hayes insere na história filhos e maridos opressores da forma mais caricata possível, uma idosa “invejosa” que quer acabar com a alegria do grupo a qualquer custo e líderes de torcida no ensino médio que não hesitam em ridicularizar Martha e suas amigas em qualquer oportunidade apresentada, além de um romance envolvendo uma das estudantes e o neto de Sheryl.
Com uma intensa lista de problematizações, no fim, a produção não consegue sustentar nenhuma. Tudo que é colocado em tela é pouco aprofundado e resolvido de forma conveniente, isso sem citar os personagens que simplesmente são esquecidos ao longo do caminho e não recebem qualquer tipo de fechamento, como os vilões que ora estão super empenhados em destruir a felicidade do grupo, ora se dão por vencidos sem nenhum motivo aparente. A luta de Martha contra o câncer também é abandonada em dado momento sem nunca ser retomada, e o que a princípio seria o ponto mais esperado da história é reduzido a um fade esbranquiçado. De tão bem-intencionado, As Rainhas da Torcida acaba se afogando.