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    Fala Sério, Mãe!
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Fala Sério, Mãe!

    Encontro de gerações

    por Rodrigo Torres

    Thalita Rebouças pode se considerar a pessoa mais feliz desse Natal. Em pleno 25 de dezembro, chega ao circuito a adaptação de seu principal sucesso literário, Fala Sério, Mãe!, com todas as credenciais para também ser um sucesso cinematográfico. O maior indicativo é o encontro de gerações entre Ingrid Guimarães e Larissa Manoela, dois ícones em suas respectivas faixas etárias que interpretam com muita competência e química uma relação de mãe e filha. Tudo sob o olhar atento da autora, em uma participação especial (como a primeira pessoa a dar oportunidade profissional à jovem protagonista) sintomática sobre sua condição atual: madura e bem-sucedida. Assim, felicidade completa.

    Fala Sério, Mãe! é um filme em duas partes. A primeira é narrada por Ângela Cristina, uma mulher com tamanha vocação para ser mãe que se torna hilária. Do tipo que entra em parafuso e concentra os clichês e as paranoias da figura materna, a personagem é concebida com o mesmo olhar satírico e afetuoso com que Paulo Gustavo compõe a Dona Hermínia de Minha Mãe é Uma Peça. A franquia cômica de sucesso é referência tanto para o diretor Paulo Vasconcelos, que retrocede em relação à articulação visual do recente Dona Flor e seus Dois Maridos e opera seu filme como mero veículo do texto de Rebouças; como para Ingrid Guimarães, que — também roteirista — tem a responsabilidade, mas também todo o espaço para brilhar. E assim ela faz.

    Ingrid Guimarães constrói sua Ângela como a mesma caricatura de Dona Hermínia, ao mesmo tempo absurda e real, arrancando risadas pela pronta identificação do público com o seu jeito, suas falas, suas manias, seus micos — típicos de mãe. Os ecos entre Fala Sério, Mãe! e Minha Mãe é uma Peça são tamanhos que, quando Paulo Gustavo surge em cena para uma ponta, o riso é instantâneo. Depois, por conta de uma sequência de gags provocadas pelo tipo estabelecido pelo ator em 220 Volts, comicamente impaciente, e Ingrid, inspiradíssima. Ainda vale notar que aqui a humorista usa seu talento em uma personagem inédita, mais agridoce, que faz graça mas também revela carência, solidão, um peso dramático.

    Este arco mais pungente é a marca da segunda parte, quando Maria de Lourdes assume a voz protagonista. E é aí que Larissa Manoela surpreende. Fala Sério, Mãe! é um diário de Thalita Rebouças. E a jovem atriz empresta a ternura necessária na leitura dessa história e na relação de Malu com Ângela. Assim, o constrangimento da menina frente ao excesso de cuidado da mãe diverte, sua insatisfação convence, até que uma maturidade acontece diante da tela. Comovida com a situação de Ângela, que deixou de ser mulher para ser mãe, Malu se torna sua melhor amiga, apesar dos tapas e beijos. Mais universal, impossível.

    Essa humanidade é o grande trunfo de Fala Sério, Mãe!. Permitindo que Pedro Vasconcelos e equipe realizem algo funcional embora tão simples. Desse modo, investindo em um tipo de melodrama televisivo, bem acessível ao espectador médio; em uma comédia popular (o título do filme é repetido várias vezes, tem piada tirada de Chaves) e atestada por um grande sucesso do cinema nacional; incluindo hits de Shawn Mendes, Tiago Iorc, Ana Vilela e do funk carioca, acenando para um público alvo bem definido; enfim, adequando o best-seller de Thalita Rebouças à linguagem audiovisual com correção.

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