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    Sandy Wexler
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    Sandy Wexler

    O rei do streaming

    por Francisco Russo

    Houve um tempo em que, quando um ator conhecido ia trabalhar em alguma série de TV, tal ato era sinônimo de derrocada na carreira. Mal comparando, Adam Sandler vivenciou uma situação parecida ao assinar um contrato de seis filmes com a Netflix, quando o streaming não havia alcançado a abrangência existente na atualidade. Por mais que a Netflix não revele os números dos filmes já lançados, The Ridiculous 6 e Zerando a Vida, sempre afirmou terem sido líder de público mundo afora. Ou seja, se por um lado tal contrato fez com que Sandler tenha se afastado das telas de cinema, onde não lança um novo filme desde 2015, por outro o tornou uma espécie de rei do streaming. Nenhum outro ator, por enquanto, direcionou tanto sua carreira neste sentido quanto ele.

    Tal situação fez com que Sandler seja protagonista de um certo paradoxo, existente graças à dubiedade entre o formato clássico, com exibições em salas, e o online. Como seus novos trabalhos são restritos aos assinantes da Netflix, ele deu uma sumida da mídia em geral - o que não significa que esteja parado, longe disso. Sandy Wexler, o terceiro filme da parceria com a Netflix, mantém a média de um filme por ano desde 2015, ritmo comparável ao do workaholic Woody Allen. Mas, no fim das contas, qual é a diferença entre os filmes feitos por Adam Sandler na Netflix e os que já vinha estrelando antes do tal contrato? Tirando o método de exibição, praticamente nenhum.

    Senão, vejamos: Sandler continua produzindo seus próprios filmes através da Happy Madison, sem efeitos especiais elaborados ou caprichos maiores envolvendo figurinos e cenários, trabalhando com diretores bem conhecidos, recrutando velhos amigos em participações especiais e apostando na antiga fórmula que mescla uma certa ingenuidade com piadas grosseiras, onde praticamente repete o mesmo personagem. Em Sandy Wexler, não é diferente. Há desde a metáfora do patinho feio, através da personagem de Jennifer Hudson, ao agente de bom coração que se veste mal, come pior ainda e é um tanto quanto inconveniente em ambientes sociais - o próprio personagem-título, potencializado pela voz intencionalmente (e irritantemente) aguda.

    A breve "novidade" tem a ver com o formato, já que Sandy Wexler adota o mockumentary na abertura e em breves momentos espalhados no decorrer do longa-metragem, onde convidados contam à câmera suas impressões sobre o personagem-título. Entre aspas porque tal formato não é propriamente novo, o próprio Allen já o utilizava décadas atrás em filmes como Zelig (falso documentário) e Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (personagem conversando com o espectador). Ainda assim, tal proposta é interessante pela reunião de ícones da TV e da comédia nos Estados Unidos, como Jay Leno, Jimmy Kimmel, Chris Rock, Jon Lovitz, David Spade e Pauly Shore, e pelo gancho trazido na reta final, como uma grande celebração do show business norte-americano.

    No mais, trata-se do humor típico de Sandler, que necessita sempre de uma imensa dose de boa vontade em relação à história. Afinal de contas, é difícil acreditar na paixonite repentina vinda da aspirante a cantora extremamente ingênua interpretada por Jennifer Hudson (de novo em uma personagem dependente de sua capacidade vocal), assim como na coleção de caricaturas formada pelos clientes de Wexler. Mesmo as várias participações especiais - Terry Crews, Kevin James, Rob Schneider e tantos outros -, soam mais como curiosidade do que propriamente com o objetivo de gerar risadas.

    Repleto de breves piadas que investem forte na nostalgia dos anos 1990, época em que a história é situada, Sandy Wexler é uma comédia de poucos recursos que pode, no máximo, agradar aos que curtem o estilo de seu protagonista. Há ainda um certo exagero: com 2h11 de duração, um dos mais longos estrelados por Sandler, o filme conta com muita gordura a ser cortada por uma edição mais rigorosa, especialmente em relação aos clientes do personagem-título. Por mais que sirvam para ambientar o contexto do agente de bom coração que é Wexler, vários deles são descartáveis ou, ao menos, não mereciam tanto espaço.

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