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    Pokémon: Detetive Pikachu
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Pokémon: Detetive Pikachu

    Memória afetiva

    por Francisco Russo

    Sempre de olho no que faz sucesso além das telonas, Hollywood não poderia passar despercebida à verdadeira tsunami promovida por Pokémon Go!, o singelo jogo de aplicativo que fez com que milhões mundo afora percorressem todo tipo de lugar em busca dos tais monstrinhos escondidos. De olho neste público ávido, formado tanto por veteranos da série e dos longas de animação quanto por novos fãs que apenas os conheceram graças ao tal jogo, chega aos cinemas o primeiro live-action da franquia, Detetive Pikachu. Mas com novidades que podem atingir em cheio o coração dos fãs: sem Ash nem treinadores, e quase sem batalhas ou mesmo pokébolas.

    Baseado no jogo de videogame homônimo, Detetive Pikachu é uma reinvenção do universo canônico a partir do politicamente correto dos dias atuais, o que faz com que as batalhas entre os monstrinhos e seus treinadores sejam abolidas - ao menos em Ryme City, a cidade-modelo onde é situada esta história. Em um mundo onde pokémon e humanos vivem em harmonia, a paz é colocada à prova quando um detetive misteriosamente morre, deixando para trás seu companheiro de investigações, ninguém menos que Pikachu. Sem memória e ao lado do filho de seu parceiro, o pequeno rato elétrico amarelo precisa descobrir o que realmente aconteceu.

    Com tanto histórico na bagagem, é claro que Detetive Pikachu não se furta a dar easter-eggs que farão a alegria do público fiel. A chegada a Ryme City oferece uma constelação de monstrinhos que farão exercitar a memória dos fãs, em uma busca incessante por lembrar o nome de cada um deles, mesmo que pouquíssimos tenham realmente participação na história. Não importa! Estamos no terreno da memória afetiva, onde qualquer afago não apenas é bem-vindo, mas também esperado. Afinal de contas, Detetive Pikachu é um filme feito para fãs, logo, por que não servi-los? Ainda mais com o live-action que nos entrega Pokémon em versão pelúcia, que instigam qualquer um a se tornar Felícia para com eles brincar, amar, acariciar e apertar. Simples assim.

    Mas nem só de fan service se faz um filme, ainda mais um com tantos problemas de roteiro quanto este. Se a reinvenção não só traz frescor à franquia como agrada em sua proposta de coexistência pacífica, surpreende o fato que o filme pouco explora tamanha diversidade de espécies para, rapidamente, partir para o duo formado por Pikachu e Justice Smith. A surpresa da fala do pequeno pokémon dura pouco, servindo de gancho para uma longa e burocrática jornada em busca do pai/parceiro desaparecido, bastante prejudicada não só pelas obviedades da narrativa mas, também, pela ausência de carisma e limitações de Justice Smith, coprotagonista desta história. Se os pokémon são fofíssimos, o mesmo não se pode dizer de suas contrapartes humanas, sempre estereotipadas e pouco interessantes.

    É claro que, habilmente, o diretor Rob Letterman de vez em quando quebra tal monotonia com algum afago ao fã espectador. Assim temos uma batalha clandestina envolvendo pokémon, a clássica música-tema inserida de uma maneira bem divertida e Psyduck roubando a cena sempre que aparece. Até mesmo Mewtwo, vilão do primeiro longa em animação, conta com um truque narrativo que lida (de novo) com a memória afetiva dos fãs. Ainda assim, é pouco. Quando Detetive Pikachu enfim retoma sua proposta original, muito do fôlego já foi perdido pelos caminhos tortuosos (e questionáveis) do roteiro.

    Há também a questão da voz de Pikachu. Como na sessão para imprensa foi exibida a versão dublada, não foi possível conferir a criação do personagem trazida por Ryan Reynolds, seu dublador original - ainda assim, é possível identificar em certos diálogos o toque do atual Deadpool, especialmente na inserção de palavras em espanhol. Se afastando do tom sarcástico visto nos trailers, o dublador brasileiro Phillippe Maia entrega um trabalho correto, repleto de gírias locais que dão a Pikachu um jeitão de malandro carioca. Funciona, mas também retira do filme o subtexto que Reynolds, dialogando implicitamente com a persona do Mercenário Tagarela, com certeza trouxe.

    De óbvio apelo infantil, Detetive Pikachu entrega parcialmente cenários multicoloridos para também atrair a criançada, aliado ao apelo inevitável dos pokémon de pelúcia. Aos menores, a jornada do duo protagonista pode também desanimar pelo tom um pouco mais escuro e a pouca ação, por mais que a narrativa seja bem didática. Já os veteranos (de franquia) terão a chance de reconhecer algumas das influências escancaradas assumidas pelo roteiro, de Gremlins a Avatar. Ah, e tem também Ken WatanabeBill Nighy no elenco, mas as atuações de ambos são tão preguiçosas que nem vale se alongar mais que esta mísera linha.

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