Minha conta
    A Química que Há Entre Nós
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    A Química que Há Entre Nós

    "Se você me salvar, eu vou salvá-lo"

    por Barbara Demerov

    Poucos meses após a Netflix ter lançado Por Lugares Incríveis, drama adolescente mais focado nas questões emocionais de seus personagens e não propriamente no romance entre eles, o Prime Video agora nos apresenta Chemical Hearts, que executa ideias semelhantes com relação à evolução interna na juventude por conta de eventos traumáticos. Ao mesmo tempo, são filmes diferentes em seus resultados finais, uma vez que o primeiro projeto de Lili Reinhart como produtora se atenta especificamente ao olhar de Henry Page (Austin Abrams) para com a jovem Grace Town (Reinhart). E, ainda que a jornada seja dele, a história dela faz toda a diferença.

    Começando com uma narração em off do protagonista, na qual fala sobre como as emoções na adolescência são muito intensas, o filme de Richard Tanne apresenta a figura de Grace logo em seus primeiros momentos sem torná-la romantizada ou intocável. A relação entre os dois flui de forma natural no colégio, mas sempre com uma aura misteriosa em torno da garota que a narrativa faz questão de se apoiar. Porém, mesmo ao nos trazer a visão de Henry em primeiro plano, Grace (uma pessoa com evidentes traumas físicos e, como acompanhamos aos poucos, mentais) acaba por ser a personagem que dá o verdadeiro brilho à narrativa.

    DRAMA TEEN NÃO SE APOIA EM CLICHÊS E APRESENTA PERSONAGENS MADUROS

    E isso só acontece porque o deslumbramento de Henry não é a característica que move a trama (algo que acontece em diversos filmes do gênero). Não que ele não exista, é claro, mas a visão do protagonista é diferente da que o espectador tem de Grace. Por mais que a presença inesperada da jovem na vida de Henry seja o tal acontecimento marcante pelo qual ele sempre esperou na juventude, o arco da ex-atleta traz um peso dramático bem-vindo à narrativa. Afinal, aos poucos o próprio protagonista vai desmistificando a figura de Grace e a deles enquanto casal - como quando descobre que a música que poderia ser deles era, na verdade, a de Grace com seu falecido namorado -, abrindo um caminho de maturidade para ele e de libertação para ela.

    A performance de Reinhart impressiona pela intensidade, com a atriz demonstrando muitas nuances na figura da frágil personagem: da felicidade ao medo, da esperança por um dia melhor à insegurança de seguir em frente após o grave acidente que danificou seu joelho. Também é válido notar que, como Grace é a responsável por trazer novas experiências e sensações na vida de Henry, ela acaba ofuscando as próprias questões do protagonista em diversos momentos. Isso não chega a ser um grande demérito pois o espectador precisa saber exatamente o que houve em seu passado; mas, entre um e outro, o maior avanço de personagem recai em Grace.

    No entanto, Chemical Hearts evidencia uma bela troca para acompanhar: Grace representa a figura do primeiro amor de Henry, enquanto Henry representa a esperança de que este sentimento ainda pode fazer parte da vida de Grace. Ainda que alguns diálogos não promovam a mesma força que o silêncio já evidencia, nas cenas finais é nítido ver que, para ambos, este intenso relacionamento foi o agente de diversas ações e reações em suas vidas. Sem focar no questionamento se seus caminhos se tornarão o mesmo ou não, o filme apresenta bem aquele tipo de amor que pode não durar para sempre, mas encoraja duas pessoas a serem mais gentis consigo mesmas. A frase originada do latim, "se você me salvar, eu vou salvá-lo", pode parecer piegas, mas é bem inserida em uma trama que não se apega a finais sentimentalistas.

    Quer ver mais críticas?
    Back to Top