Devo dizer primeiramente que sou uma grande fã de Turma da Mônica. Lendo todas as histórias possíveis desde que aprendi a ler, decorei histórias e personagens, contextos e subtextos. O trailer do filme me animou bastante, mas confesso que fui receosa assistir ao filme, considerando que outros filmes recentes de franquias que eu gosto muito me decepcionaram profundamente. Mas não foi o que ocorreu, ainda bem. O filme se mantém pela sua simplicidade: sem exageros, sem o novo ideal cinematográfico de promover agendas de forma nada sutil. O roteiro segue uma história, e dentro dela os fãs são presenteados com diversas coisas. Os atores foram muito bem escolhidos, e a caracterização se manteve fiel. Por exemplo, Mônica, invocada e super forte (as cenas de coelhada são cortadas, mas nas historinhas também são, com raras exceções), mas uma menina sensível e disposta a tudo pelos amigos, e os roteiristas fizeram certo ao incorporar essa sensibilidade da personagem no filme.
Apesar da turma ser da Mônica (Mônica e Cebolinha brigam bastante sobre isso, discutindo de quem é a turma... um modo interessante de colocar o nome "Turma da Mônica" dentro do filme), o protagonista acaba sendo o Cebolinha. Mostrando seus clássicos planos infalíveis, sua obsessão em derrotar a Mônica e, claro, o amor que sente por ela, temos um Cebolinha completo. Aliás, são os desenhos do Cebolinha, ou seja, como ele retrata os outros personagens (Mônica, Magali, Cascão, Floquinho) que nos apresentam os personagens como os conhecemos: na imaginação e nos desenhos de uma criança, são assim que eles se parecem.
Ao passearmos pelo bairro, vemos diversos personagens do universo do Bairro do Limoeiro, caracterizados para aparecem poucos segundos até alguns poucos minutos. Mas mesmo assim, houve a preocupação de trazê-los. Titi com sua namorada Aninha, vestindo sua tradicional camiseta listrada, Jeremias, Xabéu, Xaveco (única caracterização que achei estranha) e algumas para fãs um pouco mais entrosados no universo de Maurício de Sousa, Seu Juca (que, por fazer apenas uma ponta, não ficou maluco desta vez) e as irmãs Cremilda e Clotilde, que sempre têm um plano para dar um banho no Cascão. Para fazer referência a isso, quando Cascão passa por elas, uma delas tenta limpá-lo com um espanador. Posteriormente, vemos que houve uma preocupação de caracterizar também os pais dos personagens principais; na minha opinião, Lurdinha, a mãe do Cascão, foi a de maior destaque em relação a aproximação com o desenho apresentado nos quadrinhos.
O plot se inicia quando o cachorro do Cebolinha, Floquinho, é sequestrado. Cebolinha pede para a turma ajudar a achá-lo, e assim começa a aventura. A maior parte do filme é dentro dessa busca, primeiro pelo bairro, depois pelo parque (com um encontro nada agradável com Tonhão e sua turma, valentão que é uma figura frequente nas historinhas) e, por fim, na mata. Cebolinha e Mônica são o foco, mas Cascão e Magali têm seu brilho. Nas revistinhas, várias historinhas são em volta dos problemas causados pelo medo da água do Cascão (e sua agilidade) e pela fome da Magali, e isso é retratado. Um easter egg é dado assum que eles entram na floresta: todos os personagens perdem os sapatos, menos Cebolinha, o único desenhado com sapatos nos quadrinhos. Ele comenta que os outros três vivem perdendo os sapatos.
Visitamos na mata brevemente outra parte do universo de Maurício, o cemitério da Turma do Penadinho. Vemos logo Cranicola em sua pedra, para termos certeza de que estamos no lugar certo. Cascão cita também a expressão "alma penada" em alusão ao protagonista fantasma Penadinho.
Durante a noite na floresta, Cebolinha fica acordado vigiando e acaba encontrando o personagem Louco, retratado por Rodrigo Santoro. Nos quadrinhos, a maioria das histórias do Louco são contracenadas com Cebolinha e, no filme, apenas ele o encontra e tem contato. Eles não se conhecem, logo se apresentam, e Cebolinha já passa a ser chamado, como sempre, de Cenourinha. Esse louco tem suas loucuras materializadas como nos quadrinhos (uma curiosidade: quando o personagem foi criado, isso não acontecia), mas isso não foi colocado de forma extravagante. A loucura de Louco no filme é mais complexa, trazendo um breve momento filosófico ao filme, comentando inclusive sobre o que seria a loucura.
A busca chega ao fim quando eles encontram o vilão, que sequestra os cãezinhos para vendê-los para a indústria de cosméticos, a verdadeira grande vilã, utilizá-los como matéria-prima para o creme contra a calvície Cabelol. Fiquei surpresa com a escolha da indústria como antagonista. Como um conceito abstrato, um vilão mediador foi colocado para dar mais clareza ao público, principalmente infantil. Seria inclusive perturbador pensar no que aconteceu com outros cachorros que não tiveram a mesma sorte de Floquinho, resgatado a tempo. Algumas indústrias já foram vilãs em algumas histórias, graças à donos gananciosos ou funcionários preguiçosos, mas achei corajoso trazer esse conceito para o filme.
Ao fim, temos uma festa de comemoração. Mais personagens apresentados a nós por aparecerem na festa: Quinzinho e Cascuda, namorados, respectivamente, de Magali e Cascão. E uma longa troca de olhares entre Cebolinha e Mônica, o casal mais esperado do público brasileiro.
Eu demoro um pouco para pensar nas minhas críticas de cinema, pois gosto de considerar bastante os filmes. O filme da Turma da Mônica fica melhor para mim a cada vez que penso em seus detalhes. Não apenas manteve a essência do que é a turma da Mônica e a amizade entre os quatro protagonistas, mas trouxe presentes para todos os fãs que, como eu, puderam agora ver pela primeira vez um live-action desse quadrinho tão amado pelo Brasil.