Ariana Grande e Cynthia Erivo são a dupla perfeita nesse espetacular musical de O Mágico de Oz
por Katiúscia ViannaNão é novidade nenhuma ver o legado de O Mágico de Oz nos cinemas. Diversos filmes, séries e livros tentaram recontar sua história; mas ouso dizer que nenhuma adaptação conseguiu ter o status popular que Wicked possui. Originalmente como um dos musicais mais bem-sucedidos da Broadway, conquistou os fãs do gênero desde 2003. Se O Mágico de Oz tem “Over the Rainbow”, Wicked tem “Defying Gravity” - mesmo que você tenha conhecido graças a Glee, por exemplo, você certamente já ouviu essa canção por aí.
Aqui no Brasil, não é diferente, principalmente em São Paulo, onde já aconteceram algumas temporadas de sucesso da peça. Agora, Wicked se prepara para alcançar voos ainda maiores (desculpe o trocadilho, não resisti): após passar décadas em desenvolvimento, o musical chega aos cinemas trazendo Ariana Grande e Cynthia Erivo nos papeis principais. E, com muita ansiedade, chegou a hora de conferir se essa espera valeu a pena.
Wicked é uma espécie de prelúdio de O Mágico de Oz que acompanha a juventude daquelas destinadas a ser Elphaba, a Bruxa Má do Oeste, e Glinda, a Bruxa Boa. Por um lado, Elphaba foi desprezada durante sua vida por ter uma pele de cor verde e habilidades surpreendentes e caóticas. Por outro lado, temos uma jovem popular chamada Galinda (sim, o nome muda depois) que sempre teve tudo que desejou.
O destino acaba unindo os caminhos das duas na Universidade Shiz e aquilo que, inicialmente, começa com uma brutal rivalidade, acaba se transformando numa forte amizade. Só que verdades serão reveladas e ambas terão que fazer difíceis escolhas sobre seus futuros - mostrando que nem tudo aconteceu como foi contado em O Mágico de Oz.
Adaptação da peça livremente inspirada no livro Wicked: A História Não Contada Das Bruxas De Oz, de Gregory Maguire; Wicked - o filme - tem roteiro de Dana Fox (Cruella) com Winnie Holzman, que também escreveu o libreto da peça original. Já as canções são de Stephen Schwartz (Pocahontas, O Príncipe do Egito, Encantada).
Para início de conversa, alguns nomes são essenciais para o sucesso de Wicked no mundo cinematográfico. Pois sim, os fãs podem ficar avaliados, já que esta é uma das melhores adaptações de palcos para as telonas, seguindo o caminho trilhado por musicais modernos como Chicago, Mamma Mia!, Tick, Tick… Boom!, e o recente remake de Amor Sublime Amor.
Por trás das câmeras, a figura principal é o diretor Jon M. Chu, cujas obras mais elogiadas já indicavam que ele era o homem certo para a função: ele cria universos coloridos e majestosos (como vimos em Podres de Ricos) e também sabe criar números musicais criativos (como vimos no injustiçado Em um Bairro de Nova York). Aqui, ele abusa de um orçamento mais elevado para realmente dar vida a um mundo mágico.
Desde as 9 milhões de tulipas plantadas para a sequência de abertura até sua visão interativa da Cidade das Esmeraldas, ele foi capaz de reunir grandes profissionais para transformar sua visão em realidade. Nada é simples em Wicked. Bibliotecas são giratórias, transeuntes são dançarinos que se movem com perfeição e a câmera viaja dentro das paredes de cada local. Tudo tem vida, cor e espetáculo; traduzindo bem como seria a versão cinematográfica (e mais palpável) daquilo que vemos nos palcos de Wicked.
Tecnicamente belo, os trabalhos do figurinista Paul Tazewell e do responsável pelo design de produção Nathan Crowley são grandes destaques nesse universo.
Obviamente, as figuras centrais deste universo são as intérpretes de Elphaba e Glinda, Cynthia Erivo e Ariana Grande. Ambas tiveram um desafio muito difícil nas mãos, já que são duas personagens adoradas por décadas. Talvez Ariana tenha sido a que mais sofreu, pois sua escalação foi duramente criticada por certos grupos, que não confiavam que ela seria capaz de dar vida à Glinda sem conseguir separar seus “maneirismos” como cantora pop.
E, nossa, como o povo estava errado: Ariana Grande (que tem passado como atriz na Broadway e na TV) rouba a cena equilibrando a quase bondade de Glinda, mas com reações hilárias da sua personalidade mimada e patricinha. Ela arrancou boas gargalhadas da minha sessão e pode ficar orgulhosa, já que declarou publicamente como seu sonho era interpretar essa personagem. Ela se inspira, obviamente, no trabalho de Kristin Chenoweth, a intérprete original de Glinda na Broadway.
Durante todo o filme, Ariana e Cynthia formam uma dupla perfeita, tanto como rivais, como amigas, rendendo cenas emocionantes como o baile de Ozdust e o clímax da última canção. Por sua vez, Cynthia Erivo mostra que não está para brincadeira e cria sua própria versão de Elphaba, carregando grande dramaticidade e sobriedade para os momentos sérios, mas também tem um timing cômico sagaz. E quando chega “Defying Gravity”? Não tire as crianças da sala, pois elas também vão querer ver o show que essa vencedora do Tony Awards faz (só falta Cynthia ganhar o Oscar para fechar o famoso EGOT, esse momento vai chegar cedo ou tarde)!
Nomes como Jonathan Bailey (no papel do sedutor príncipe Fyiero) e Michelle Yeoh (como a poderosa diretora Madame Morrible) também são escalações ideais para os personagens coadjuvantes, enquanto a escolha de Jeff Goldblum como O Mágico de Oz faz tanto sentido que é difícil imaginar outra pessoa com esse emprego. Fica aqui também o destaque para a revelação em Marissa Bode, primeira atriz com deficiência a interpretar Nessarose, numa versão bem mais ingênua que a vista na peça original. Pelo menos, por enquanto…
Falando aqui de forma mais focada para aqueles já fãs do musical, as performances de “Dancing Through Life”, “The Wizard and I”,” What Is This Feeling?”, “Popular”, "One Short Day" e” Defying Gravity” são grandes destaques, com números muito inventivos e versões bem emocionantes. Infelizmente, não deu pra cortar "A Sentimental Man", pois tem significado na história, mas melhoraram visualmente a cena.
No geral, o filme apresenta os trunfos e defeitos do primeiro ato do musical, porém com uma hora a mais de duração. Enquanto algumas cenas adicionais atrapalham o ritmo, outras trazem novos detalhes interessantes a serem observados, como a apresentação de Fyiero no longa. E por mais que deixe muita coisa a ser desenvolvida em Wicked 2, o filme em si apresenta uma bela jornada com “começo, meio e fim”, principalmente no desenvolvimento da dupla protagonista.
Vale a pena lembrar que a versão dublada tem as vozes de Myra Ruiz e Fabi Bang, que interpretaram Elphaba e Glinda com sucesso nos teatros brasileiros. Como a cabine que eu fui era uma sessão legendada, eu já vou garantir o meu ingresso pra ver de novo na versão nacional e sair cantando como é desafiar a gravidade. Afinal, desafiar as enormes expectativas ao redor da espera desse longa, Jon M. Chu, Cynthia Erivo e Ariana Grande conseguiram com maestria.