Anti-Michael Bay
por Lucas SalgadoAngústia, revolta, decepção, intriga, curiosidade e até uma certa dose de divertimento. Tudo isso pode ser tirado dos 181 monótonos minutos de Um Outro Ano. É um filme que gera reações negativas e positivas, mas de certa forma se propõe a isso. Não é uma obra que causará indiferença ao espectador. Ele pode odiá-la, mas o filme lhe causará sentimentos. E este é o grande mérito da produção.
Não estamos diante de um longa universal, fácil de ser assistido e absorvido. O documentário retrata um dia por mês por 13 meses na vida de uma família simples da China. Cada um destes dias/meses é apresentado de uma forma básica, através de uma única tomada com a câmera fixa em algum local da sala de jantar.
É isso mesmo que você calculou. São apenas 13 tomadas ao longo de todo filme. Em um longa de três horas. É basicamente o oposto de Michael Bay.
A família é formada por pai, mãe e três filhos, além da avó (mãe do pai). O pai tem um trabalho simples e luta para colocar comida em casa que seja suficiente para todos. A mãe é obrigada a cuidar de todos, inclusive da sogra, com quem não se dá muito bem.
Apesar de ser um documentário, o filme conta com uma reviravolta digna de uma ficção, com a avó sofrendo um derrame e fazendo com que parte da família (a mãe e os dois filhos mais novos) se mudem para uma pequena vila para cuidar dela.
O filme retrata 13 refeições, que dizem muito sobre a dinâmica familiar e sobre o cenário social da China. É curioso notar que os temas nas conversas não variam muito, mesmo passando mais de um ano de gravações.
Não é um longa para todos e é curioso notar que seu maior problema - a exagerada duração - também se apresenta como possível virtude. A câmera parada por muito tempo no mesmo ambiente obriga o espectador a procurar informações pela tela que possam se encontrar fora da presença dos personagens. Neste sentido, conhecer o local onde vivem diz tanto sobre aquelas pessoas quanto as informações vindas de suas bocas.
Filme visto durante a cobertura do 5º Olhar de Cinema de Curitiba, em junho de 2016.