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    O Vento Sabe que Volto à Casa
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    O Vento Sabe que Volto à Casa

    Cinema-observação

    por Lucas Salgado

    O Vento Sabe que Volto à Casa é, antes de tudo, um belo exercício de metalinguagem. Trata-se de um documentário sobre o processo de pesquisa e idealização de um longa-metragem de ficção. Mas não se preocupe, não estamos diante de um grande making-of. Trata-se de um filme que existe a partir da seleção de elenco e pesquisa para outro longa, mas é um filme.

    Jose Luis Torres Leiva retrata a rotina de Ignacio Agüero na reclusa ilha chilena de Meulin. Ele deseja rodar um drama sobre um casal de adolescentes que se apaixona. O relacionamento, no entanto, não é aceito pela família e eles acabam desaparecendo para sempre.

    Agüero visita a comunidade local, especialmente as pessoas mais velhas, para saber se conhecem o caso e também para explicar as relações que existem naquela ilha. Há, no local, uma grande separação entre as pessoas de origem indígenas e àquelas de sobrenome chileno. São muitas as histórias de romances proibidos e famílias partidas.

    Ao mesmo tempo, o diretor realiza um processo de seleção de atores na escola local, entrevistando diversos jovens em busca de uma chance no cinema. A inocência e a timidez dos jovens são notáveis naquele cenário e o diretor passa bastante conforto para eles se apresentarem.

    Trata-se de uma obra complexa, quase antropológica. Com a câmera sempre fixa, o diretor é um observador. Ele observa a relação entre os moradores da ilha, entre os animais e seus principais cenários. Há ainda a preocupação de retratar espaços importantes de convivência, como a escola, o mercadinho e o salão de festas. Também nota-se a preocupação de mostrar tradições locais, como o velório e a vida no campo.

    Ainda que não seja cinematograficamente original, o longa encontra seu valor na simplicidade, da imagem e dos personagens. As tomadas paradas e pausadas valorizam a natureza de observação. Neste sentido, é curioso notar que o diretor oferece, em alguns momentos, uma câmera fixa em movimento. Ou seja, uma tomada presa num ponto, mas em um carro em movimento.

    É uma obra que diz mais em seus momentos de silêncio do que em suas entrevistas, embora seja difícil não se tocar com uma senhora que tenta relembrar seus oito filhos, especialmente aquele do qual não tem notícia há décadas. 

    Filme visto durante a cobertura do 5º Olhar de Cinema de Curitiba, em junho de 2016.

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