Spontaneous utiliza com perspicácia sua premissa absurda para fazer uma oportuna metáfora sobre os tiroteios nas escolas americanas, e, do seu próprio jeito desengonçado meio teen rom-com, refletir e levantar questões provocativas sobre o espinhoso tema. Seus amigos estão morrendo e ninguém pode fazer nada a respeito. Todo mundo pensa que tem alguma coisa errada com os jovens, buscam culpabilizar e reprimir aqueles acometidos pelos sintomas da doença, e não procurar uma cura ou tratamento eficiente para a doença em si. Os adultos, atordoados e sem saber direito como agir diante de um mal novo e imprevisível, adotam medidas de remendo com estes jovens : Os trancam, tiram seus celulares, os transformam em cobaias de medicamentos. O governo promete que cuidará deles e que um dia resolverá o problema que os afligiu e ainda os aflige, mas esse dia nunca chega. Então depois de um tempo, todo mundo volta à sua ''vida normal'', para a escola, para as festas, apenas tentando fingir que nada nunca aconteceu, que não há nenhum problema, e esperar que tudo um dia fique bem, porque isso é mais fácil para todo mundo, inclusive para as autoridades, se unir para resolver um grande problema em comum é muito difícil... O filme faz uma abordagem inteligente de fácil compreensão de um assunto sério, e apresenta esses temas dificeis não de uma forma exploradora ou sensacionalista, mas com o intuito de fazer uma concientização sobre esses problemas, e mostrar que a dor do luto pode diminuir com o tempo, mas nunca vai embora. É um filme também leve e até engraçado em alguns momentos, e que acaba tomando um rumo sombrio após o segundo ato, e deixa mensagens e reflexões que pesam nesses tempos. Começa muito bem, mas vai perdendo um pouco de fôlego lá pros 25min, quando deixa um pouco de lado a questão central do enredo e foca mais no desenvolvimento do romance de Mara e Dylan, virando uma legítima comédia romântica, perdendo um pouco de tempo com diálogos bobos e cenas desnecessárias e longas, deixando o filme com uma duração além do que o enredo e o escopo da produção pedia. Mas o longa recupera o gás cerca de 30min depois, com algumas ótimas cenas. O bom elenco jovem (ou não tão jovem assim) carrega o filme nas costas, praticamente, a começar por Katherine Langford no papel principal. A atriz se revela a cada papel uma verdadeira estrela em ascensão, assim como em 13 Reasons Why, ela transmite bem a intensidade da personagem, e desaparece na performance, e aqui com o diferencial de também ter o lado cômico, que ela cumpri bem. Charlie Plummer é outro talento promissor dessa nova geração, ele é uma espécie de Michael Cera, tem o mesmo estilo geek cativante do protagonista de Superbad, numa versão Anos 2020, um ator carismático. O elenco de apoio é bom, mas nenhum grande destaque, mas é bom ver Piper Perabo por aí de novo... Enfim, é um teen movie esperto e provocativo que consegue fugir um pouco do convencional, embora não escape das armadilhas de seu batido gênero. Então se estiver procurando um entretenimento juvenil e agradável, é uma boa pedida, mas vale avisar que o filme conta que alto consumo de alcóol e drogas, além de linguagem chula, então eu não recomendaria para jovens de menos de 15 anos, por exemplo. Além do fato de não ser apenas uma rom-com, a premissa é bem bizarra e tem momentos sangrentos, e o filme também fica meio deprê perto do final. Mas observando como um todo, é um filme técnica e narrativamente bem feito.