Existe uma crença na sociedade atual – na brasileira pelo menos – que, ao chegar-se na faixa do 50 anos (chamada por alguns de meia-idade), tanto homens quanto mulheres entram em uma espécie de período de castidade na qual deixam de ter uma vida amorosa, tanto no sentido físico quanto sentimental, passam a ser apenas aqueles que as crianças e os jovens chamam de “tiozinho” e “tiazinha” e que não entendem os namoros e o sexo desta época globalizada que é vivida atualmente. Essa é a premissa na qual é a película 50 são os Novos 30 é inspirada.
Marie-Francine (Valérie Lemercier, da franquia O Pequeno Nicolau) é uma bióloga casada, com duas filhas adolescentes e que acaba de fazer 50 anos. O que deveria ser um período de celebração, torna-se um turbilhão de acontecimentos inesperados: seu marido, Emannuel (Denis Podalydès, de Um Doce Refúgio) a troca por uma mulher mais nova, perde seu emprego e termina por voltar a morar com seus pais, Pierric (Phillippe Laudenbach, de Más Notícias Para o Sr. Mars) e Annick (Hélène Vincent, de Samba). Trabalhando em uma pequena loja de cigarros eletrônicos, conhece um chef de cozinha português, Miguel (Patrick Timsit, de Um Time Bem Diferente), com quem começa a se relacionar.
A trama, como podem ver, é simples, assim como simples é 50 são os Novos 30. Apesar disso, o filme demora um pouco a engrenar, mas, quando o faz, corre bem e o público se satisfaz com o que veio ver.
A direção da cineasta-intérprete Valérie Lemercier - também autora do roteiro junto com Sabine Haudepin (de Jules e Jim - Uma Mulher Para Dois, em sua estréia como roteirista) - segue a simplicidade geral de 50 são os Novos 30, mas é segura, principalmente na direção do elenco, que inclui a si mesma. O estilo de sua personagem, Marie-Francine, com seus óculos, senso de humor e uma ligeira neurose, é a de uma versão francesa e feminina de Woody Allen (Roda Gigante). E a gêmea de Marie-Francine, Marie Noelle (também Valérie), segue pela mesma toada, mas sem os óculos.
Aliás, o elenco é o ponto forte do filme, com atores e atrizes muito bons, em atuações convincentes, fazendo personagens simpáticos que ajudam o filme a engrenar, ainda que pegando no tranco. O destaque vai Helene Vincent como a engraçada mãe de Marie-Francine, Annick.
Chama a atenção a presença de várias canções de Fado na trilha sonora, em sua maior parte interpretadas pela magnífica, inesquecível e saudosa cantora portuguesa Amália Rodrigues (1920-1999). Isso explica-se por um motivo que alguns brasileiros desconhecem: há uma grande colônia portuguesa na França, especialmente em Paris. E como a francesa Marie-Francine, namora o português Miguel, a trilha sonora encaixa-se com perfeição na trama.
Quem já leu meus textos anteriores, sabe que sou bastante crítico à tradução de títulos de filmes estrangeiros. O título original de 50 são os Novos 30 é justamente o nome da protagonista principal, Marie-Francine. Porém, é daqueles raros casos nos quais, um título que não tem nada a ver com o original calha de ser adequado à trama exibida.
50 são os novos 30 não é a melhor comédia que já vi e a diferença entre gerações poderia ter sido melhor explorada, mas, assim como seu elenco, é simpática e agradável. Os cinquentões vão identificar-se com o filme, claro, mas a garotada também vai curtir e vão logo sacar que, sim, os "tiozinhos" e "tiazinhas" de 50 anos também namoram, transam e amam como se, realmente tivessem 30 anos. Ou até menos...