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    Estrelas de Cinema Nunca Morrem
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Estrelas de Cinema Nunca Morrem

    Minha querida decadência

    por Bruno Carmelo

    Uma antiga estrela de cinema se apaixona por um jovem ator em ascensão. Ela está doente, ele tem plena saúde; ela leva uma vida de diva, ele enfrenta problemas de autoestima. O romance de opostos, tendo como pano de fundo a queda dos ícones em Hollywood, motivou algumas das maiores produções da história do cinema, como Nasce uma Estrela e Crepúsculo dos Deuses. É com este universo que o diretor Paul McGuigan pretende dialogar em Estrelas de Cinema Nunca Morrem.

    Interpretando a atriz Gloria GrahameAnnette Bening troca a postura agressiva e voz rouca pelos trejeitos felinos de uma estrela sedutora, de voz infantil e corpo retraído. Ela se orgulha do desejo sexual das pessoas por ela enquanto mantém o timbre de garota virginal; ela afirma ser uma pessoa simples enquanto ostenta um apartamento de luxo e objetos de decoração feitos sob medida para ela. Para interpretar a vencedora do Oscar por No Silêncio da Noite (1950), Bening efetua uma composição de opostos extremos e simétricos.

    Diante desta figura-sol, que capta toda a atenção dos personagens, da câmera e dos cenários, o jovem Peter Turner (Jamie Bell) apenas orbita. Ele dispõe de poucos conflitos próprios, além de ser um ator que jamais vemos atuar. Peter existe unicamente por causa de Gloria, servindo para ressaltar as qualidades e defeitos dela. Ainda assim, enquanto figura acessória na narrativa, Jamie Bell tem o desempenho mais interessante do elenco, porque o seu personagem é o único passível de nuances. Gloria vai da euforia à depressão, mas Peter transita organicamente entre ambas. A força do olhar de Bell é fundamental para trazer naturalidade a esta improvável história de amor.

    Por um lado, Estrelas de Cinema Nunca Morrem segue uma cartilha tradicional, anunciando a enfermidade da protagonista desde a primeira cena, e alternando entre o presente decadente e o passado glorioso, em flashbacks. O duelo evidente entre o luxo e o lixo é profundamente sublinhado por McGuigan. O diretor faz questão de tratar a enfermidade de Gloria como uma gravíssima ameaça de morte a qualquer momento, enquanto o romance com o jovem ator seria um idílio em cenários paradisíacos.

    A falta de sutileza poderia servir a criticar o mundo de aparências no qual vivem as celebridades, mas falta ao cineasta um distanciamento em relação a estes elementos. McGuigan abraça com gosto as locações multicoloridas, as inúmeras texturas dos objetos, dos papéis de parede, das cortinas esvoaçantes, sempre com uma seriedade sepulcral. As imagens são orgulhosamente cafonas. A estética traria material de sobra para uma crítica social à la Grey Gardens ou Marguerite - para citar dois bons exemplos de retratos de divas decadentes -, no entanto o filme está preocupado demais em funcionar como romance para criticar suas ilusões.

    O resultado tenta funcionar como filme à moda antiga, no bom e no mau sentidos do termo. Por um lado, a ingenuidade do garoto apaixonado (“Ela prometeu que vai melhorar!”, ele exaspera apesar dos laudos médicos) e a beleza da estrela diante de uma paisagem irreal possuem seu charme retrô e kitsch. Por outro lado, a contemporaneidade já aprendeu a ressignificar estes recursos, a combiná-los, decompô-los de mil formas – como o pop, o punk, o grotesco, o irônico – de modo que o filme de 2017 não deixa de soar um tanto anacrônico.

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