Quatro garotões e uma California girl
por Taiani MendesSucessora de Nora Ephron na produção consistente de comédias românticas, Nancy Meyers emplacou Do Que as Mulheres Gostam, Alguém Tem que Ceder, O Amor Não Tira Férias e Simplesmente Complicado nos anos 2000, mas em sua última obra, Um Senhor Estagiário, se afastou do gênero que a consagrou, preferindo contar uma história de amizade intergeracional. Carentes, os fãs de histórias de amor leves atrapalhadas por conflitos pouco complexos e protagonizadas por brancos ricos não precisam mais sofrer de abstinência. Hallie Meyers-Shyer, filha de Nancy, estreia como diretora e roteirista em um filme no estilo dos que deram fama à mãe, temperado com referências à sua própria relação íntima com a indústria, o pequeno diferencial.
Reese Witherspoon interpreta Alice, filha de um cultuado cineasta vencedor do Oscar, mulherengo e amoroso, apesar de ausente. Em crise no casamento, ela deixa o marido em Nova York para morar com as filhas em Los Angeles e se aproxima por acaso de três idealistas jovens adultos: um diretor (Pico Alexander), um roteirista (Jon Rudnitsky) e um ator (Nat Wolff). Claro que ela acaba se envolvendo mais com um dos rapazes e a diferença de idade – ela aos 40, ele no início dos 20 – torna-se uma grande questão, mas Hallie, surpreendentemente, não se atém ao romance. O cinema como profissão e amor maior do que a própria família, conforme apresentado na dinâmica abertura, faz-se presente em toda a duração, na trama paralela dos meninos em busca de financiamento para o primeiro longa-metragem e na principal, abordando o trauma de Alice de ser colocada em segundo plano por negócios relativos à sétima arte. Meyers-Shyer, cujo pai é Charles Shyer, diretor de O Pai da Noiva e Alfie - O Sedutor, certamente sabe do que está falando e seu conhecimento de causa deixa a correlação bem verdadeira na tela.
É meio difícil aceitar uma dondoca com duas filhas pequenas abrigando em sua casa três marmanjos que acabou de conhecer, mas passado o estranhamento é possível gostar dos relacionamentos que se desenvolvem e torcer pela harmonia da grande família moderna e profundamente artística que é formada. O que fica deslocada é a aventura profissional de Alice, plantada apenas para tirar sarro do high society clichê e ressaltar como a protagonista não é tal tipo detestável de gente apesar da mansão, do sobrenome e da aparência, e tampouco está imune a humilhações.
Michael Sheen está convincente no papel do marido que age como adolescente e os três garotos contracenam bem com a poderosa Reese: Alexander segurando no charme, Rudnitsky revelando-se o melhor ator e Wolff fazendo o que dá com o pouco tempo de tela e a irrelevância de seu personagem.
Solar e divertidinho, De Volta Para Casa entrega exatamente o que o público espera de uma comédia romântica com Nancy Meyers nos créditos - ainda que aqui apenas produtora. Sem cheiro de naftalina (exceto o fim ao som da Carole King de 1971) ou alguma inovação que o conecte imediatamente à segunda década do século XXI, tem como maior destaque o diálogo com o cinema, enriquecido pelas experiências da diretora novata como filha de cineastas. É curioso um filme tão formulaico mostrar uma defesa tão apaixonada do cinema independente autoral.