A conta chegou
por Lucas SalgadoVencedora do Oscar, do Emmy e do Tony, Helen Mirren é uma atriz reconhecida internacionalmente e muito bem conceituada, principalmente por toda a atmosfera de requinte passada por seu papel mais famoso, em A Rainha. Um olhar mais fino por sua trajetória, no entanto, mostra que ela também é bem suscetível a um erro aqui acolá. São várias escolhas questionáveis ao longo de cinco décadas de carreira. E A Maldição da Casa Winchester é mais uma dessas.
A sensação ao conferir o novo trabalho da atriz é: "Nossa, Helen Mirren deve ter contas para pagar." Não há muito além que justifique o fato dela se envolver em uma obra genérica como esta, com roteiro pobre e com diretores pouco conhecidos (os irmãos Michael Spierig e Peter Spierig). Eles lançaram o último Jogos Mortais: Jigsaw recentemente, mas quando começaram a trabalhar em Winchester, eram ainda menos conhecidos. Haviam se destacado em produções pequenas, com forte elemento do gore, característica completamente abandonada neste suspense.
Muitas vezes banalizado ao final do século XX, o gênero do horror/suspense voltou a ganhar força nos anos 2000, com produções como Atividade Paranormal, Invocação do Mal e It - A Coisa fazendo muito barulho nas bilheterias. Isso sem falar em Corra!, indicado ao Oscar de Melhor Filme este ano. Winchester, no entanto, não merece ser lembrado ao lado das obras citadas. É uma produção vazia e destinada ao esquecimento, que sofre com a pior coisa que pode acontecer em um filme do gênero: não ser nenhum pouco assustador.
Tudo é tão previsível, os sustos são tão telegrafados, que o que acontece é que o espectador fica já sem paciência no meio da história. Ele já sabe tudo o que vai acontecer e como, tornando os 100 minutos de duração em uma experiência que, em termos de sensação, se aproxima de três horas.
Supostamente inspirado em uma história real, o longa gira em torno Sarah Winchester (Helen Mirren), uma viúva que é herdeira da lendária empresa de armas de fogo Winchester. Ela vive em uma mansão em constante reforma, em que acredita estar construindo quartos para abrigar espíritos de pessoas mortas pelas armas criadas pela família. Diante disso, executivos da empresa tentam tomar o controle das mãos dela, alegando que não tem completo domínio de seu estado mental. Para isso, contratam o psiquiatra Eric Price (Jason Clarke), que deve visitar a mansão e definir o real estado da viúva.
Clarke e Mirren são bons atores e fazem o possível com o pobre roteiro que receberam. Mas o possível aqui está muito longe do suficiente para tornar o filme uma experiência interessante. Tudo é banal e mal desenvolvido. Há certo interesse nos protagonistas, mas todos que os cercam são mal executados, como a sobrinha de Sarah e seu filho.
O filme não se destaca em nenhum elemento. A trilha é banal, a fotografia genérica e as cenas parecem mal ensaiadas. Um trunfo da obra é a casa em que se passa a história, que traz elementos de fascínio e um bom design de produção, mas nem isso é o bastante pra prender o espectador.