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    TAU
    Críticas AdoroCinema
    1,0
    Muito ruim
    TAU

    Pobre inteligência artificial

    por Bruno Carmelo

    Um dia, Julia (Maika Monroe) é sequestrada em seu apartamento. Ela trabalha como stripper e ladra, além de viver num loft underground com cores em neon. Exceto por essas informações, não conhecemos praticamente nada sobre ela. O refinado sequestrador Alex (Ed Skrein) se revela igualmente misterioso. Este jovem bilionário musculoso, mistura de Christian Grey e Patrick Bateman, trabalha na construção de uma inteligência artificial, utilizando cobaias humanas para testar sua tecnologia. No entanto, não espere descobrir mais elementos sobre a personalidade dele, seu passado, sua posição dentro desta empresa, ou ainda a maneira como consegue raptar e manter diversas pessoas no porão de sua casa sem que ninguém descubra.

    TAU exige um esforço de imaginação e, principalmente, de condescendência por parte do espectador. Além dos simplórios personagens principais, existe um terceiro vértice neste triângulo: Tau, a inteligência artificial tímida e carinhosa, que gosta de música clássica e se comporta como uma criança carente. Logo, Tau se apaixona pela mãe-cuidadora, enquanto teme o pai autoritário – sim, esta inteligência artificial precisa superar o Complexo de Édipo. Para a nossa surpresa, ele grita de dor, implora para não apagarem as suas memórias. No futuro, o imaginário dos robôs avançados não corresponde mais uma máquina impiedosa, e sim um proto-humano infantilizado, facilmente corruptível por sua ingenuidade.

    O diretor estreante Federico d’Alessandro, mais conhecido como criador dos storyboards de filmes da Marvel, ostenta grandes ambições visuais. Infelizmente, elas não estão atreladas a uma justificativa narrativa particular: a gigantesca mansão kitsch de Alex parece, em muito, com um cenário em estúdio; os microrrobôs esféricos que compõem a inteligência artificial são belos, porém ineficazes; a cela ultrassecreta onde ficam as cobaias traz uma configuração quase absurda em termos de luz, geografia e segurança. Em outras palavras, o cineasta se preocupa em criar algo único do ponto de vista visual – algo que TAU certamente conquista -, embora vazio e próximo do cômico em sua aplicação dentro da história.

    Pela premissa básica – um criador genial, uma vítima manipulada e uma inteligência artificial confinados – o projeto se aproxima de uma das melhores ficções científicas dos últimos anos: Ex_Machina - Instinto Artificial. Entretanto, a produção de 2014 dedicava tempo considerável à construção psicológica de seus personagens, trazendo discussões complexas sobre sexualidade e limites éticos da ciência, ao passo que TAU se limita ao jogo simples entre vilão e mocinhos, gatos e ratos. A sobrevivência constitui o único conflito digno deste nome: uma pessoa está presa e busca sair, nada mais. Algumas soluções são engenhosas, porém improváveis e tragicômicas (envolvendo cordas e mãos humanas), enquanto outras são simplesmente fáceis demais (envolvendo a corporalidade de Tau).

    Por fim, o projeto transparece um desejo importante de se distinguir da média do gênero. No entanto, o diretor tem dificuldade para construir seres humanos e máquinas minimamente verossímeis, enfrentando obstáculos inclusive na mise en scène de momentos básicos (o jantar de Julia e Alex, as reuniões em holograma). Maika Monroe e Ed Skrein se esforçam, mas não conseguem ocultar as inúmeras deficiências da direção e roteiro. Pior ainda para Gary Oldman, dando voz à inteligência artificial. D’Alessandro mira alto, mas se perde nos aspectos mais elementares da narrativa e da linguagem cinematográfica.

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