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    O Mistério de Silver Lake
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    O Mistério de Silver Lake

    Teorias da conspiração

    por Bruno Carmelo

    A população de Los Angeles está em alerta: existe um matador de cachorros na região. Além disso, um grande milionário está desaparecido. E a vizinha de Sam (Andrew Garfield), em quem ele estava interessado, sumiu do dia para a noite. E dizem que as letras das músicas de uma banda escondem uma mensagem especial. E que uma caixa de cereal traz o mapa de um tesouro. E que algo estranho acontece no fundo do lago no meio da cidade.

    Em Under the Silver Lake, as pistas não constituem detalhes dentro de uma história maior, elas são a história maior. Todos estes indícios poderiam representar um plano muito mais complexo do que o simplório personagem, algo orquestrado pelas altas esferas do poder. Ou poderiam não significar absolutamente nada. Depois de usar o sexo para estudar a noção de paranoia em Corrente do Mal, agora o diretor David Robert Mitchell utiliza a cultura pop para representar a vontade de que nossas vidas irrisórias façam parte de algo grandioso. “Onde está o mistério que faz tudo valer a pena?”, pergunta um personagem.

    Para o roteiro, a resposta se encontra na conjunção entre música, quadrinhos, cinema, ícones infantis, misticismo. O nosso protagonista é um jovem com tempo livre o suficiente para interpretar obsessivamente todas essas formas de expressão: Sam não trabalha, não estuda, não tem muitos amigos. Ele passa o dia dentro de sua casa, vestindo roupas sujas, olhando para as paredes – até a “intrigante e sombria investigação de assassinato”, como diz um diálogo, tomar conta de sua vida. Sam embarca na caça ao tesouro movido por uma mistura de tédio, solidão e sensação de vazio. Este é provavelmente o melhor aspecto do filme: o retrato de uma juventude individualista, depressiva, cujos ícones já morreram, e que não se identifica mais com nenhuma instituição.

    Mas a intenção do cineasta é construir uma comédia, uma espécie de stoner movie (filme sobre pessoas drogadas, inconsequentes) no qual o corpo das mulheres é explorado como fetiche, e o dos homens, como sinônimo de fracasso. Andrew Garfield está muito confortável no papel do jovem perdido, parodiando inclusive a sua própria participação na franquia Homem-Aranha. Ele se sai bem com os diálogos cômicos, assim como Riley Keough e Riki Lindhome. Mas logo a narrativa desperta a estranha impressão de que as peças do quebra-cabeça não montam, ou talvez não formem imagem alguma quando reunidas.

    Under the Silver Lake fica a dois passos de parodiar uma geração perdida, de satirizar o valor da cultura pop, de ilustrar o voyeurismo da geração Y, de criar seu próprio filme cult a exemplo de tantos citados na história. No entanto, ele parece satisfeito demais com suas pontas soltas para amarrá-las no final. A trama nem se fecha de maneira coerente, nem apela para a catarse do absurdo. O projeto teria certo parentesco com experiências à la Barton Fink ou O Grande Lebowski, ou ainda com os delírios criativos de Adaptação e Quero Ser John Malkovich, porém sem abraçar esteticamente ou narrativamente a insanidade libertária destas outras obras. David Robert Mitchell lança informações, coleta nomes, marcas e referências culturais, mas para por aí – como se todos esses elementos, dispersos, tivessem um valor em si próprios.

    Filme visto no 71º Festival Internacional de Cannes, em maio de 2018.

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    Comentários

    • Paulo R.
      Achei a crítica mais interessante do que o próprio filme kkkk
    • FSociety
      Roteiro confuso, eu curti muito Corrente do Mal nossa foi um filmaço mas esse ai foi confuso do inicio ao fim, detesto quando esses diretores querem fazer algo pra suspender o publico mas na verdade não fazem é nada.
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