Ser humano acima de heroico
por Barbara DemerovA Batalha de Midway ocorreu em 1942, apenas seis meses após o grande ataque do exército japonês a Pearl Harbor. De tão importante em tamanho e propósito, ela já foi abordada no cinema americano em 1976, com o filme Midway - A Batalha do Pacífico, dirigido por Jack Smight. Agora, em 2019 e com os inúmeros artifícios da tecnologia, a mesma batalha épica retorna à tela grande sob o comando de Rolland Emmerich, cineasta já bastante familiarizado com o cinema de guerra.
O diretor de Independence Day, Godzilla e O Patriota não procura trazer uma ótica diferenciada da grande batalha e prioriza novamente a virada dos americanos na Segunda Guerra, que até os eventos em Midway estavam sofrendo com a força das tropas japonesas e com a ainda recente destruição de Pearl Harbor, cuja inteligência estadounidense não fora capaz de intervir a tempo. No entanto, é interessante observar em Midway - Batalha em Alto Mar que os japoneses não são personagens totalmente sem profundidade. Apesar de todo o destaque recair nos americanos, o comandante Tamon Yamaguchi (Tadanobu Asano) e alguns de seus soldados chegam a ser levemente abordados de forma humana - ainda que sejam vistos aos olhos dos protagonistas como simples alvos que devem ser derrubados a todo o custo.
Do lado da América, o protagonismo é bem distribuído entre Dick Best (Ed Skrein), Edwin Taylor (Patrick Wilson) e Wade McClusky (Luke Evans), além de contar, também, com boas participações de Aaron Eckhart, Woody Harrelson e Nick Jonas. Todos têm o mesmo propósito e, ainda assim, atuam em diferentes frentes. Como em todas as guerras, o mar, o solo e o ar se complementam, e Emmerich balanceia o tempo de cada batalha, assim como o drama pessoal dos personagens com mais destaque. A família entra bastante neste quesito especialmente com Dick Best, que além de perder seu amigo de longa data em Pearl Harbor, ainda tem de lidar com o misto de coragem de voar com o medo de morrer. Ele não teme perder a própria vida, mas sim pela chance de sua esposa Anne (Mandy Moore) e filha viverem sem sua presença.
O longa ganha identidade ao tratar com paciência o aspecto humano de seus personagens, mas o revés de Midway - Batalha em Alto Mar aparece aos poucos, quando sua longa duração excede o limite e a mensagem já não se sustenta por si só. A partir do momento em que os respectivos dramas são desenvolvidos, não há nada mais a ser exibido a não ser as incontáveis cenas de guerra. Porém, uma carta na manga do roteiro é a apresentação dos planos da inteligência americana, que uma vez espantada pelo resultado em Pearl Harbor, esforça-se para dar o máximo de segurança nas informações sobre quais são os futuros planos da tropa japonesa.
Por já ser habituado a este gênero cinematográfico, Emmerich dirige as cenas de muita ação com pulso firme e não entrega muitas informações visuais de forma que as imagens fiquem confusas. Apesar de muita movimentação, cores e explosões, as sequências no mar e no ar são bem filmadas e coreografadas - e ainda contam com a bela trilha-sonora de Thomas Wander e Harald Kloser, que salienta a emoção nas horas mais precisas. Os quesitos técnicos se sobressaem o tempo todo, mesmo quando a história começa a dar voltas e mais voltas no mesmo lugar.
Midway - Batalha em Alto Mar possui tudo aquilo que um filme de guerra e ação desenfreada requer: elenco estelar, uma boa história real como pano de fundo e efeitos visuais que compõem um cenário realístico de uma época que já parece distante demais. Contudo, por conta do enredo optar mais uma vez por retratar os americanos como os únicos heróis da guerra, ele cai no lugar-comum de tantos outros longas do gênero. Os créditos finais trazem breves passagens que registram a situação de cada personagem após a guerra e homenageiam ambos os lados, mas ver os japoneses em meio aos americanos desta forma não se encaixa muito bem com o que é apresentado em mais de 2h de duração.