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    Como se Tornar um Conquistador
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    Como se Tornar um Conquistador

    Homens e mulheres de outros tempos

    por Bruno Carmelo

    Como descrever Maximo (Eugenio Derbez), o protagonista desta comédia? Por se aproveitar de mulheres ricas e mais velhas, torcendo que morram logo para recuperar a herança, ele poderia ser considerado um aproveitador. O título original prefere considerá-lo um “latin lover”, cujos talentos na cama supostamente compensam a falta de caráter. O título brasileiro prefere enxergar nele um “conquistador”. Para o diretor Ken Marino, Maximo é um homem atrapalhado e superficial, porém com um inegável bom coração.

    Produção americana voltada ao público hispânico, Como Se Tornar um Conquistador adota a receita dos protagonistas falhos que, diante da adversidade, se transformam em pessoas melhores. Ou seja, a pobreza constrói caráter na história do homem rico que perde sua fortuna e se vê obrigado a morar com a irmã de classe média, Sara (Salma Hayek) e o sobrinho pequeno, cujo nome sequer conhecia. Aos poucos, eles percebem que a família deve permanecer unida, e que tudo de que a mãe solteira precisava era do homem mulherengo para distrair seu filho. Na necessidade de uma figura paterna, é melhor ter um pai ruim do que pai nenhum, certo? O filme parece acreditar que sim.

    O roteiro adota uma estrutura moral comum aos filmes da Sessão da Tarde dos anos 1980. Nesta história, as mulheres são ingênuas, esperando por um amor para salvá-las, ou movidas pelo sentimento protetor supostamente reservado ao “sexo frágil”. Enquanto isso, os homens são infantilizados, mas irresistíveis. Como aparentemente as mulheres adoram cuidar dos homens, o amor do filme se traduz em sucessivas relações de carência. Em tempos de empoderamento feminino, igualdade de gênero e exploração da sexualidade, o retrato social desta comédia incomoda bastante.

    Mas existem as piadas, claro, para disfarçar qualquer discussão. Eugenio Derbez, estrela no México, se adequa bem aos padrões hollywoodianos pelo humor físico, escatológico, um tanto infantil. Para o público que aprecia os trejeitos de Adam Sandler nos Estados Unidos ou de Leandro Hassum no Brasil, esta construção de extremos oferece um prato cheio. Os personagens são ricos ou pobres, muito feios ou muito bonitos, muito maliciosos ou muito ingênuos, conquistados ou conquistadores. Os exageros podem ser naturais da comédia, mas quando são reservados à representação das minorias, funcionam como perpetuadores de preconceitos – neste caso, o latino pouco confiável, a loura burra, a matrona católica etc.

    Quanto à construção do humor, cada piada é repetida várias vezes (o nome errado do garoto, a motocicleta pequena dos vendedores, o tamanho da casa de bonecas), algo que, além da gag, soa como descrença na capacidade do público em compreender por si próprio. Existem pelo menos três cenas questionáveis envolvendo deficientes físicos, além de outras relacionadas a empregados domésticos. Para dizer que nem tudo é previsível, a conclusão adota rumos inesperados e particularmente comodistas no caso de Maximo.

    Como Se Tornar um Conquistador faturou ótimos US$32 milhões nos Estados Unidos, além de US$25 milhões no México. Essa informação não influencia a apreciação crítica do filme, mas serve para lembrar que existe, sim, um público para comédias popularescas, um tanto conservadoras sobre o lugar de homens e mulheres na sociedade. Entre uma cena colorida e uma piada de peido, entre uma trilha engraçada e uma criança fofa (o bom Raphael Alejandro), a comédia disfarça com um sorriso no rosto sua visão antiquada do mundo e do cinema.

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