A inocência da infância
por Barbara DemerovA pureza que só é encontrada nas crianças e a curiosidade que reside em uma determinada fase da vida onde tudo parece uma "missão impossível" a ser realizada com afinco - além da vontade de ajudar animais - formam o espírito de Pequena Travessa. Com uma protagonista capaz de conversar com qualquer tipo de animal (o que inclui seu cachorro de estimação), esta história possui muitos traços infantis a fim de conquistar facilmente seu público-alvo, mas por outro lado peca por exceder tal característica e não alcançar os demais públicos.
Os cenários coloridos e, de certa forma, fantasiosos dentro de uma pequena cidade alemã dão todo um ar otimista à história, já deixando claro que tudo ficará bem no final - mas, por mais que esta seja uma produção infantil, a escolha narrativa de aliviar os dramas dos personagens acaba sendo um problema, pois todos os conflitos da personagem principal não dão base para um maior aprofundamento. O fato de Liliane (Malu Leicher) falar com animais sem nenhum tipo de explicação não é uma questão negativa (afinal, este é um filme que visa entrar no imaginário infantil a fim de entregar a bonita mensagem de compaixão e respeito ao próximo), mas sim o fato de pequenos detalhes no enredo e na composição de personagens serem falhos.
O cuidado em mostrar o apreço de Lili para com os animais é uma das exceções que funcionam no aspecto geral de A Pequena Travessa. Porém, a rapidez dos acontecimentos não dá espaço para deixar a trama fluida - pelo contrário, tudo soa não só apressado como também sem o mínimo argumento. Há, inclusive, diversos erros de continuidade no figurino do elenco que dão indícios de uma montagem O roteiro parece não passar do nível superficial que o próprio resumo já conta: esta é a história de crianças que tentam salvar o zoológico da cidade de uma mulher que sequestra animais.
Por mais que o elenco infantil esteja bem entrosado, há algumas atuações que beiram o caricato, como é o caso do trio de colegas que Lili faz amizade ao longo da narrativa e que tenta emular o estilo de Regina George em Meninas Malvadas. A sub-trama da protagonista com os amigos funciona pela missão que Lili cria para salvar os animais sequestrados; mas, fora isso, os diálogos forçados, juntamente com algumas ações inesperadas, não se conciliam de forma natural.
Isso tratando-se do público adulto, que certamente acompanhará as crianças ao cinema e poderá não entrar na história da mesma forma. Os momentos da menina com os pais, que poderiam ser justamente um ponto de interesse aos familiares da vida real, também não fogem do estilo caricaturesco (vide o pai distraído que parece ter saído de um livro) e se esquivam de qualquer ponderação mais séria (como o fato da família estar sempre se mudando).
Diante de uma ambientação rica em detalhes, cores e animais das mais diversas espécies, A Pequena Travessa é um deleite para as crianças e traz uma história digna de entretenimento puro para tal público, mas o mesmo não pode ser dito quanto sua força narrativa, que não tem potência para atingir emocionalmente os espectadores das demais idades devido ao excesso de infantilização do elenco adulto. As ideias funcionam de modo superficial, apenas para uma diversão imediata que acabará sem muitas delongas.