Terra das oportunidades
por Francisco Russo"Isto realmente aconteceu". É assim, com uma afirmação explícita da veracidade dos fatos, que tem início O Rei da Polca. Uma artimanha capciosa usada pela diretora Maya Forbes, que de imediato desperta a curiosidade do espectador: afinal de contas, o que de tão inusitado acontece para que seja necessário reafirmar que se trata de uma história real?
A resposta atende por Jan Lewan, um pitoresco cantor e dançarino de polca, que deixou sua Polônia natal em busca do sucesso nos Estados Unidos. Compreender a imagem deste imigrante acerca da América, terra das oportunidades, é crucial para o bom entendimento da história: apenas a partir da crença absoluta em si mesmo, aliada à ganância e o desprezo pelas leis, podem justificar como Jan elaborou, sem querer, um grande esquema de pirâmide onde convencia um punhado de velhinhos a investir nele mesmo, sob a promessa de retorno com juros bem maiores que os oferecidos pelo mercado. O interessante é que, mesmo diante de tamanha pilantragem, Jan é sempre apresentado como alguém simpático, que comete deslizes aqui e ali. Um contraste que norteia boa parte do longa-metragem.
Consciente disto, um acerto do filme é entregar Jan a Jack Black. Acostumado a personagens exóticos e de comportamento amalucado, ele se diverte em um papel que depende muito de seu carisma, justamente devido ao comportamento questionável. Mais que isso: Black se dedica a um estranho sotaque que, imediatamente, nos remete à condição de forasteiro em busca da fama, tema essencial à narrativa como um todo. Ponto para o filme.
Apesar de tais qualidades, O Rei da Polca jamais decola de fato muito devido ao roteiro, falho em explicar a construção da pirâmide elaborada por Jan e bastante convencional ao retratar os fatos mais inusitados de sua vida. Soma-se a isto a apatia de todos os coadjuvantes - especialmente Jason Schwartzman, que tem mais tempo em cena - e a expectativa criada logo de início, com a frase ressaltando a veracidade do exibido, que resulta em uma certa frustração. Por mais que a trajetória de Jan seja fora do usual, não é algo tão improvável assim - o que faz com que o filme, jamais, deixe o ponto morno.
Curioso, O Rei da Polca se equilibra especialmente no histrionismo de seu protagonista para conseguir alguma atenção do espectador. Vale acompanhar a sequência final, uma apresentação do verdadeiro Jan Lewan, que dialoga justamente com o preâmbulo no sentido de reafirmar as peculiaridades tão exóticas de seu personagem principal.