Denúncia vazia
por Lucas SalgadoConhecido pelo trabalho em Vosso Ventre e Em Nome de Deus, o diretor filipino Brillante Mendoza é figurinha certa em festivais internacionais, sempre presente e muitas vezes premiado. Foi assim no último Festival de Cannes, em que seu Ma'Rosa saiu de lá com o prêmio de Melhor Atriz para Jaclyn Jose.
A atriz vive Rosa, uma mulher que mora com os três filhos e o marido em uma área pobre de Manila. Ela possui um pequeno mercadinho em sua casa, em que vende balas, biscoitos e coisas do tipo. O negócio, no entanto, é uma espécie de fachada para algo maior. Ao lado do marido, viciado em drogas, ela vende metanfetamina.
Um dia, diante de uma operação policial, Rosa e o marido acabam presos. Na delegacia, são colocados diante de um empasse: ou entregam seu fornecedor ou conseguem dinheiro para saírem dali.
Mendoza, mais uma vez, retrata um cenário de pobreza, violência e corrupção - das pessoas e das instituições. Trata-se de um filme mais interessante do que realmente bom, com roteiro simples e atuações apenas competentes, que mais valem pela naturalidade do que por um grande talento dramático dos membros do elenco.
Neste sentido, é surreal que Jaclyn tenha superado nomes como Sonia Braga (Aquarius), Isabelle Huppert (Elle), Ruth Negga (Loving) e até Adèle Haenel (A Garota Desconhecida) na disputa em Cannes, embora seja importante lembrar que um prêmio, ainda que injusto, não deve ser considerado na análise do filme em si. Fica mais como curiosidade.
Ma'Rosa conta com um primeiro ato muito interessante, mas vai se perdendo ao caminhar da trama. Após a prisão do casal, o que temos é uma sucessão de cenas repetidas e sem muito sentido do ponto de vista narrativo. A câmera na mão ne Mendoza, que funciona no início, também se apresenta como elemento menos importante na segunda metade da produção. As cenas não são tão bem pensadas.
Ainda que sirva como denúncia do sistema policial filipino, a dinâmica dentro da delegacia tampouco funciona. Em termos de posicionamento de câmera, interação entre os atores, iluminação, tudo é muito pobre. Um dos trabalhos menos competentes de Brillante Mendoza, que parece se repetir como nunca. A marca autoral de suas obras não se faz presente em Ma'Rosa.
Filme visto na 40ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em outubro de 2016.